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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

As cidades mais feias

5 de fevereiro de 2022
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Ao iniciar esta crónica parece-me incontornável uma declaração de interesses a respeito dos chamados “rankings” qualitativos. Dizem-nos em geral os dicionários de língua portuguesa que ranking será uma “lista ordenada segundo determinados critérios ou parâmetros”. A minha reserva com estas classificações decorre, evidentemente, dos “critérios ou parâmetros” em causa. Talvez o ranking mais famoso dos últimos anos seja o das Escolas, que repetidamente nos evidencia que as escolas com melhores “performances” são aquelas em que a capacidade económica dos pais dos alunos… fazem a diferença. Para que interessa uma ordenação “qualitativa” desse tipo que nos indica sempre o mesmo e as razões daquela ordenação estão mais que percebidas? Porque os órgãos de comunicação divulgam aquela coisa, sem nunca a questionarem ?. Não apenas desconfio destes rankings como me atrevo a afirmar que são lixo comunicacional e, logo, social.

Há uns dias, chegou-me ao conhecimento que um site, de sua denominação VortexMag, que parece ser uma espécie de magazine de superficialidades sobre viagens e correlativos, definiu as “10 Cidades mais feias de Portugal”, entre elas, estarão as cidades de Sacavém e Loures. Também Amadora, Odivelas, Barreiro, Matosinhos e outras.

Os argumentos para a classificação são de uma ligeireza evidente. Há, no país, outras Cidades tão ou mais feias do que as nomeadas e, portanto, é-me claro que se trata de um artigo de opinião apressado e não de uma classificação ponderada e medianamente criteriosa.

Escrevi em crónica anterior que “a Cidade de Sacavém teima empenhadamente em não assumir o estatuto de Cidade. (…) é entusiasmadamente complacente com o estado de insuficiência urbana, com a circulação viária caótica, o estacionamento automóvel pavoroso, a sujidade congénita das ruas, o definhamento comercial, a ausência desportiva, o deserto cultural.”, o que também é a minha visão, mas que partilha a ideia de Cidade feia, sem dúvida.

A avaliação feita pelo site não passa de uma mera opinião, que até o próprio site assume praticamente. Certo é que, em princípio, uma opinião não comprometida e distanciada deve levar as autoridades locais a reflectirem sobre a Cidade que têm e a que querem. Porque a verdade cruel – e dolorosa para mim - é que em Sacavém nem se vive bem, nem se vive bonito.

Em boa verdade, não nos podemos cingir como faz o VortexMag a olhar para a “falta de planeamento urbano”, porque hoje em dia, a nenhuma Cidade falta planeamento, todas têm instrumentos de planeamento, melhores ou piores. O problema está nas várias camadas de urbanismo com e sem planeamento, bom e mau, que se foi tendo ao longo de décadas. Daí o “excesso de edifícios descontextualizados (prédios modernos ao lado de edifícios antigos)”, outro dos alegados critérios usados na apreciação.

Há, contudo, factores usados para a avaliação que correspondem ao que efectivamente podia e pode ser melhorado e não o tem sido, em Sacavém: “falta de espaços verdes, degradação dos edifícios, poluição visual (graffitis, etc…)”. Nestes aspectos, meter no mesmo saco Sacavém, Loures, Amadora e Barreiro, parece-me muito injusto para estas últimas. Sacavém é, de longe, quem está pior, podendo acrescentar-se-lhe outros elementos negativos em que perde para as “concorrentes”. Será de esperar que se faça algo que retire Sacavém do rumo da fealdade…

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