Opinião de João Pedro Domingues
Recentrar o caminho
9 de junho de 2025
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Como é comum dizer na gíria popular, depois do jogo terminar é muito fácil fazer as devidas análises, apontando as causas do que de bem foi feito e dos erros cometidos, assim como dos eventuais responsáveis.
A AD ganhou, como era expectável para muitos, apesar de ter obtido um resultado muito aquém das suas expectativas, e o PS perdeu, de forma clara, tendo um dos piores resultados de sempre. Já o Chega captou os votos de protesto de grande parte da população, assumindo-se como um partido antissistema (apesar de viver à custa do mesmo sistema que combate), e passou a ser a segunda força política no parlamento.
A razão da subida da extrema-direita portuguesa, a par da que se tem verificado por essa Europa fora, tem inúmeras causas, como de resto tem sido referido por incontáveis comentadores.
O Chega subiu na votação (e de que forma), capitalizando o descontentamento da população face ao desempenho da classe política tradicional, e explorando questões sensíveis, como a imigração, a corrupção e a segurança, para só referir algumas. Levou o populismo até ao seu limite.
Abordou estas temáticas com ódio, insultando tudo e todos, provocando o medo, falou em castigos, em prisões perpétuas, em castrações químicas, e Ventura assumiu-se se como o Profeta que veio a Portugal, para resolver todos os males aqui do burgo ou quiçá da humanidade.
Claro que isto só é possível, por uma quase total falência dos políticos tradicionais. E existem tantos por aí, inclusive sentados no parlamento.
Quem conhece as áreas metropolitanas, sabe bem que se acumulam descontentamentos, intolerâncias, injustiças, a que não têm sido dadas respostas. E, através de uma demagogia barata, mas eficaz, o Chega tem capitalizado.
Para além disso, a comunicação social, consciente ou inconscientemente, tem como que levado André Ventura ao colo, dando-lhe palco, e um protagonismo que o tem favorecido, e que mais nenhum outro líder político tem tido.
Provavelmente até o episódio do refluxo esofágico (vulgo azia), de que, de resto, foi salvo, segundo parece, por ação divina, o favoreceu aos olhos de alguns eleitores menos esclarecidos e desencantados com a classe política.
O PS falhou. Falhou como partido. Não por culpa de PNS, mas por eventual culpa de um passado governativo, em que se privilegiaram os excedentes orçamentais, em detrimento de se resolver os problemas antigos de várias classes profissionais. Falhou na forma como tratou o fenómeno da imigração, que apesar de ter resolvido a carência, nomeadamente da construção civil e da agricultura, criou uma pressão desmedida e incontrolável na habitação, na saúde e na educação.
Mas claro que agora é muito fácil falar. No entanto, Ricardo Leão teve razão antes de tempo (leia-se antes das legislativas), quando falou de não se enfiar a cabeça na areia, e ter de se enfrentar o populismo de frente, com firmeza, e com soluções para os problemas reais que assolam as pessoas.
O eleitorado que vota no Chega não surge de geração espontânea. É, antes, o resultado de falhas nas soluções, de políticas fracassadas, de desigualdades económicas, da falta de oportunidades, da perceção de injustiças, enfim, de não se perceberem as reais necessidades da população. É preciso dar resposta aos problemas que afetam a classe média, que, como que tem sido esquecida pelos nossos governantes.
Temos de reconhecer que o populismo é um fenómeno complexo e multifacetado, não existindo uma forma milagrosa de o combater. Apesar disso, encarar o descontentamento popular e promover a transparência e a inclusão cívica, é um primeiro passo para o fortalecimento da democracia e da credibilidade da classe política.
Agora, o PS tem um longo caminho pela frente, para voltar a ganhar a confiança e a credibilidade que sempre o caracterizaram, e que ficaram muito abaladas. O PS tem de conseguir captar a atenção e o voto dos jovens e voltar a ganhar a confiança dos mais velhos. Será um trabalho árduo, mas possível de se conseguir.
Pela frente, tem de se concentrar nas eleições autárquicas, mostrando todo o trabalho feito e apresentando os melhores candidatos, na perspetiva de continuar a ser o maior partido autárquico e poder continuar a presidir à ANMP.
Loures continua a ser um concelho de forte matriz socialista, como se comprovou nos resultados de 18 de maio. E Loures irá continuar a dar um forte sinal de que o PS está vivo, com políticas sociais ativas, com direitos e deveres iguais, com políticas inclusivas e com um forte desenvolvimento, o que, de resto, tem sido reconhecido pela população.
E, agora, como diz o povo, vamos ao trabalho que se faz tarde.