Opinião de João Pedro Domingues
Todos, todos, todos.
5 de maio de 2025
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O 25 de Abril de 74 marcou um momento decisivo na história de Portugal. Com a revolta dos Capitães findou uma ditadura marcante para várias gerações de portugueses, que sentiram na pele a violência de um regime desumano, e deu-se início a um caminho democrático, onde os então esquecidos valores da liberdade, da dignidade humana e da justiça social se tornaram elementos fundamentais numa sociedade que se quer inclusiva e livre, e onde a vontade da população é o bem maior.
E quando findamos as celebrações dos 50 anos da Liberdade, eis que uma notícia nos entristece: a morte do Papa Francisco.
Rapidamente encontramos um paralelo, claro que de um modo simbólico, mas profundamente significativo, entre o 25 de Abril e o Pontificado do Papa Francisco.
Muitos como eu, que sendo católico não sou praticante, por tantas vezes desacreditei da Igreja, pelo exemplo que alguns dos seus membros e representantes nos transmitiram, percebemos que o Papa Francisco era uma voz firme e audível na liberdade de consciência, na defesa dos mais pobres, dos marginalizados, dos que vivem nas periferias.
O Papa Francisco era um homem completo, sem máscara, sem fingimentos, que colocava toda sua energia, todo o seu ser, ao serviço da Igreja e do Mundo.
A sua visão de uma Igreja e de uma sociedade mais inclusiva, mais perto dos desfavorecidos e muito comprometida com a justiça e a paz, são pontos comuns com a Revolução dos Cravos.
Quer a nossa Revolução quer o Pontificado de Francisco, claro que em contextos distintos, visaram um mesmo objetivo: a construção de uma sociedade assente no respeito dos direitos humanos, na liberdade, na solidariedade, na igualdade e na esperança.
A sua preocupação com o meio ambiente, com as alterações climáticas, com as crises humanitárias e os migrantes, com os direitos das minorias, foram temas muito importantes para colocar a Igreja a dialogar com o Mundo.
E esta foi uma grande marca do seu Pontificado: colocar a Igreja Católica que estava muito centrada sobre si mesmo, muito egocêntrica, a viver os problemas que assolam o século XXI. Francisco não advogava a paz somente nas ruas, mas acima de tudo na consciência de cada um. E, no momento atual, como isso é tão importante!
Mais triste do que sentir que morreu o Papa, é sentirmos que morreu um homem bom.
Para quem é católico praticante, mas mesmo para os não praticantes, é importante que se reze, para que Deus envie outro Papa, também preocupado e envolvido nas exigências específicas do tempo, tão conturbado, que agora vivemos.
Que o legado do Papa Francisco possa ter continuidade e não se verifique um retrocesso; e que a Igreja possa ser, como disse o Papa Francisco, para todos, todos, todos!