Anuncie connosco
Pub
Opinião
João Pedro Domingues – Professor
João Pedro Domingues
Professor

Opinião de João Pedro Domingues

Quem muito fala, muito erra

6 de novembro de 2022
Partilhar

Este mês gostaria de aqui deixar três breves notas, sobre assuntos que muito me têm impressionado, e continuam a impressionar, durante os últimos dias.
O primeiro, causou-me estupefação e surpresa. Não votei em Marcelo Rebelo de Sousa. Não gosto da forma como exerce o seu mandato. Não aprecio a forma como fica empolgado quando vislumbra uma câmara de televisão ou um microfone a aproximar-se. Não aprovo o estilo de comentador político, de que nunca se desligou. E, além do mais, devo ser, por opção, das poucas centenas de portugueses que ainda não têm um selfie com sua excelência.
Marcelo fala sobre tudo. Sobre o que é muito importante e sobre o que não é nada importante.
No caso em apreço, a ligação de Marcelo à igreja católica é muito forte, é uma realidade. Mas essa situação não o deveria fazer perder o foco e a noção da imparcialidade. Já tinha sido muito infeliz a sua afirmação de que não via razão para acreditar que José Policarpo ou Manuel Clemente tinham querido ocultar da justiça “crimes”, como o de denúncias de abusos sexuais por parte de padres que ainda se mantinham no ativo.
E, ainda mais, ter telefonado ao bispo José Ornelas, comunicando-lhe que tinha enviado uma queixa para a PGR sobre uma denúncia de encobrimento. Será isto normal?
Para terminar, ainda considera que mais de 420 casos de denúncia de abusos por parte de padres não é um número particularmente elevado, tendo em conta o que se registou noutros países. Que afirmação tão infeliz!
Um caso que fosse, já seria muito preocupante. E Marcelo tinha de saber isso.
E, na senda destes “deslizes”, para provavelmente mudar o foco mediático, lança numa eventual corrida presidencial Passos Coelho, como alguém de que o País precisa num futuro próximo.
Há momentos em que o silêncio, ou o recato, é mais prudente do que querer falar sobre tudo o que mexe. Marcelo já não é o comentador político, é o Presidente de todos os portugueses.
E, como diz o ditado popular, “quem muito fala, muito erra”.
Uma segunda nota, para constatar que a Ucrânia continua a demonstrar uma enorme coragem na luta contra o invasor estrangeiro. A Rússia continua a bombardear alvos militares, mas igualmente civis; quer aniquilar todos os sistemas de abastecimento de água, energia e gás, tentando que com a aproximação do inverno as populações fiquem reféns destes atos ignóbeis.
A suspensão do acordo de exportação dos cereais ucranianos é só mais uma ação militar musculada. Torna-se, neste momento tão particular, mais importante ainda reforçar e ampliar as sanções contra a tentativa do expansionismo russo, fazendo-os aceitar as negociações de paz e libertando os territórios onde se brincou aos referendos.
Uma última nota, de grande satisfação e otimismo. Refiro-me às eleições no Brasil, onde a democracia funcionou. Funcionou, permitindo que a tolerância, o diálogo, e a perspetiva de desenvolvimento pudessem ser uma luz ao fundo de um túnel que foi escavado nos últimos quatro anos.
Foi derrotado o racismo, a xenofobia, a intolerância, o atraso e o isolamento que foram uma constante dos últimos tempos.
Lula podia não ser o candidato ideal, mas manter Bolsonaro seria manter um clima de retrocesso nas políticas sociais, no combate à pobreza, e a continuar a desastrosa política, ou ausência dela, no que se refere à Amazónia.
Democracia e Bolsonaro na mesma frase é algo que se percebeu que não era possível. Quero acreditar que agora o Brasil pode voltar a ser um país onde não haverá mais de 30 milhões de pessoas com fome.

Última edição

Opinião