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João Pedro Domingues – Professor
João Pedro Domingues
Professor

Opinião de João Pedro Domingues

Enfim, mais do mesmo

4 de dezembro de 2022
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Três breves reflexões, sobre três questões que me suscitaram particular interesse:
Na primeira direi: E, finalmente vai começar!
A expectativa estava para a Carris Metropolitana iniciar o seu funcionamento em julho passado, mas a invasão russa da Ucrânia fez com que tudo o que estava previsto não se concretizasse.
Por um lado, as viaturas estavam indisponíveis: serão utilizados cerca de 525 novos autocarros, que se encontravam parqueados na fábrica e que não puderam ser entregues. As últimas entregas das viaturas em falta ocorreram durante este último mês de novembro. E, entretanto, as componentes eletrónicas necessárias também já se encontram instaladas, permitindo as validações necessárias às operações.
O principal problema era também a escassez de motoristas. Com o aumento da oferta em mais de 20%, aliado às aposentações e às demissões verificadas, houve uma enorme escassez de motoristas, em todos os lotes onde opera a Carris Metropolitana.
No lote 2, onde se insere Loures, foi necessário a contratação, no Brasil, de cerca de 300 motoristas que, segundo a Rodoviária de Lisboa, já se encontram em Portugal, com os respetivos vistos e com a formação necessária para o início desta importante operação de transporte público.
1 de janeiro de 2023 será, portanto, o começo. Todos ansiamos que assim seja. Um bom começo. A nova oferta da rede, com novos horários, mais paragens, mais regularidade, melhores viaturas e com mais percursos à noite e aos fins de semana, criaram uma expetativa muito grande que não pode ser defraudada. Ninguém iria compreender.
Os passes Navegantes foram o primeiro passo, a Carris Metropolitana procurará ir ao encontro das necessidades e, agora, só falta mesmo deixar as viaturas particulares em casa, e contribuir para a descarbonização tão necessária à preservação do nosso planeta.
Uma segunda reflexão, para falar do Mundial de Futebol no Qatar:
Não existem no mundo sistemas perfeitos, mas é importante definir outros modelos, económicos e políticos, que permitam viver com dignidade e justiça.
Há muito que se sabe que os direitos humanos no Qatar eram e são constantemente espezinhados. Mas também é fácil perceber que qualquer mudança não se fará através do isolamento e de imposições culturais e comportamentais.
Este Mundial de Futebol foi decidido em 2010, quando já se conheciam perfeitamente todas estas situações. E, facilmente se percebe, que a decisão de entregar ao Qatar esta organização, se deve ter devido a uma vasta operação de corrupção, como de resto ficou mais ou menos provado.
No entanto, este Mundial é a mais forte demonstração de hipocrisia que reina no mundo ocidental e tudo por causa do futebol. Todas estas questões humanas se evaporaram, e ninguém colocou a hipótese de boicotar, pessoal e/ou institucionalmente, esta organização.
Como aliás referiu o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal, mas, enfim, esqueçamos isso. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Agora o que importa, verdadeiramente, é o futebol, direi eu.
Mas fica uma dúvida, a realização deste Mundial não poderá constituir uma oportunidade para intervir na cultura local e deixar sementes? Poderá ser, mas não consigo acreditar.
Uma última reflexão:
Portugal acordou, um dia destes, com o anúncio da substituição do Secretário-Geral do PCP. Uma substituição há muito perspetivada face à avançada idade e à saúde de Jerónimo de Sousa.
Esperava-se que acontecesse, porém não neste momento. Mas o PCP continua a surpreender. E, quando se vaticinava e/ou apostava nos Ferreiras, Bernardinos ou Oliveiras, eis que surge um ator diferente e não expectável. E, ainda por cima, eleito por unanimidade (de braço no ar está bem de ver).
Paulo Raimundo foi o sorteado! Vem do povo, trabalhou na margem sul, fez carreira dentro da estrutura partidária. Digamos que é um homem da casa.
Pretendem os comunistas, com esta suposta lufada de ar fresco, suprir insuficiências na organização interna (o que será?), recrutar novos militantes e ligar o partido à sociedade.
Mudou um pouco o discurso, e já fala em invasão (até há pouco tempo uma palavra proibida no seio comunista). Tenta um discurso empático (diz que a melhor economista do mundo é a sua mãe), e afirma categoricamente que se tivesse estudado a vida inteira não seria um operário.
Mas depressa voltou ao discurso oficial, demonstrando, como é fácil perceber, um ortodoxismo natural próprio dos dirigentes comunistas, quando afirma que a Rússia é um “cão atiçado” pelos Estados Unidos, pela NATO e pela União Europeia, mas afirmando, logo de seguida, que o PCP nada tem a ver com as opções do governo russo.
Enfim, mais do mesmo.

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