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João Alexandre – Músico e Autor
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Ninho de Cucos

Jane Weaver - Flock

3 de abril de 2021
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4 anos depois de termos passado em revista “Modern Kosmology”, o anterior longa duração de Jane Weaver, eis-nos perante o seu novo trabalho “Flock”.

Jane Weaver é desconcertante para o público, para quem cria expectativas sobre um novo álbum que se anuncia, sobre estética ou outro tipo de previsões que se lancem perante a artista de 49 anos.

A cantora, compositora e produtora inglesa construiu ao longo da sua carreira, a solo, já com 15 anos, depois da passagem pelos Kill Laura e Misty Dixon, um status de imprevisibilidade e experimentalismo sonoro que atinge em “Flock”, editado a 5 de março, o seu expoente (11º trabalho entre álbuns e EP’s).

Folk, psicadelismo, rock, eletrónica e ambientes acústicos são alvos do seu temperamento e atitude musical subversiva.

O conforto de Jane Weaver nesta postura artística ousada, chega ao ponto de descrever no site Bandcamp, o seu novo disco “Flock” como uma mistura de canções de amor não-correspondido, punk australiano e música de ginástica russa dos anos 80.

Em entrevista para o site “Louder Than War”, Jane referiu que “Flock” é a compilação de canções pop que sempre quis fazer. De certa forma, o universo pop sempre esteve presente na sua carreira, não apenas durante experiências em trabalhos anteriores, mas igualmente em comerciais e séries de tv. Contudo tal relação ultrapassa os lugares comuns da pop, sendo abrangente e longe do óbvio.

Essa relação de Jane com a música pop vai longe, porém, não nos equivoquemos, a pop de Jane é abrangente e tudo menos óbvia, seguindo por vezes os trilhos das camadas mais obscuras da pop (Sterolab, Broadcast) e outras vezes pisando os terrenos daquilo que Jane diz serem influências que nunca deveriam ter sido consideradas datadas.

O seu experimentalismo permanece firme aliado a uma comunicação em contexto de pandemia, talvez no fundo o elemento mais previsível presente em “Flock”.

“Heartlow” abre o disco em crescendo para um ambiente folk psicadélico dos anos 60, “The Revolution of Super Visions“ anda ali pelos territórios de Prince e “Stages of Phases” com a secção rítmica em cavalgada quase que poderia ser T-Rex na década de 70 misturado com Tame Impala.

“Solarised” a fechar o disco é hipnótico e de apelo irresistível à dança eletrónica dos 90 ou 00’s.

“Flock” confirma as ambições de Jane Weaver. Este seu disco a solo tem realmente traços de compilação musical e é muito bem sucedido também pela forma como encontra em cada década uma particularidade para expressar as suas mensagens.

O que poderia parecer falta de coesão, revela-se justamente a essência de Jane Weaver, com tantos caminhos por trilhar...

Um disco a não perder.

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