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Opinião
Florbela Estevão – Arqueóloga e Museóloga
Florbela Estevão
Arqueóloga e Museóloga

Paisagens e Patrimónios

As orquídeas selvagens

8 de março de 2023
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Estamos quase na primavera, na verdade em meados de março inauguramos uma nova época onde a natureza floresce e renasce de muitas e variadas formas, cores e perfumes. Para quem gosta de caminhar pelas estradas rurais e alguns dos caminhos, nomeadamente pelos roteiros pedestres da Rota Histórica das Linhas de Torres poderá avistar várias orquídeas selvagens. Pois é, já encontrei duas recentemente e por isso dedico esta breve crónica a estas maravilhosas flores.
As orquídeas selvagens não são flores grandes, pelo contrário, muitas vezes “escondem-se” do olhar menos atento entre as outras plantas verdes que cobrem o solo. Estas pequenas flores selvagens são exemplares muito interessantes da grande família das “Orchidaceae”, e as suas flores apresentam formas e cores extraordinárias que nos encantam. No território português, tanto no continente como nas ilhas existem cerca de 60 espécies de orquídeas distribuídas por vários “habitats”.
As nossas orquídeas portuguesas são terrestres, crescem no solo na sua maioria em zonas de campo aberto ou pouco arborizadas, podemos por exemplo observar vários exemplares na serra de Ribas, basta seguir pela estrada militar de que nos inícios do século XIX foi construída para ligar os dois fortes das Linhas de Torres Vedras. Também em Bucelas existem muitos campos onde elas proliferam, algumas no meio de um chão pedregoso e árido junto aos antigos moinhos.
Estas plantas apresentam um caule central, folhas e desenvolvem hastes multiflorais, muitas vezes formando uma espiga. São plantas bolbosas, na realidade têm normalmente dois bolbos, um mais velho que irá originar a planta e outro em formação que armazena os nutrientes essenciais para que possa também desenvolver-se no ano seguinte. Assim, no final do verão as flores murcham, toda a planta seca, mas o novo bolbo subterrâneo permanecerá, adormecido, para acordar na primavera seguinte.
Muitas das nossas orquídeas lembram insetos e os nomes comuns de algumas delas estão por isso associados aos mesmos devido às semelhanças físicas. Exemplo disso é a orquídea comumente conhecida como moscardo-fusco (“Ophrys fusca”), a erva-mosca (“Ophrys bombyliflora”), ou a erva-abelha ou abelhão (“Ophrys speculum)”, bem como a erva-vespa (“Ophrys lutea”), ou ainda a erva-borboleta (“Anacamptis papilionácea”).
Na estrutura interna das suas flores, no labelo, a planta exala um cheiro que atrai os insetos, que por sua vez recolhem o pólen que vai agarrado à cabeça. Estes, ao voarem para outra flor contribuem para a polinização. A forma fálica do estame explica, segundo alguns especialistas, o próprio nome das orquídeas, designação que deriva do termo grego “orquis” que significa testículo. A forma testicular do bolbo que origina a planta, como já foi referido e, a forma fálica do estame, levou a que na antiguidade grega as orquídeas fossem vistas como símbolo da fertilidade masculina. Nessa época, acreditava-se que uma papa obtida pela moagem do bolso das orquídeas servia não só para eliminar a infertilidade masculina, mas também para solucionar outros problemas sexuais.
Um destacado especialista em orquídeas selvagens, o belga Daniel Tyteca publicou na “Revista Europeia de Orquídeas” um estudo onde aponta 57 subespécies lusas, uma delas endémica, a "Ophrys tenthredinifera guimaraesii". Tal diversidade motivou o início de um levantamento genético das orquídeas selvagens portuguesas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ora, o espécime que aqui apresento em fotografia é um dos exemplares desta subespécie endémica, identificada este ano junto às ruínas do antigo Sanatório dos Makavencos ou Grandela. Mas, estas e muitas outras, nomeadamente as orquídeas piramidais podem ser observadas na serra de Ribas, ou nas serranias e prados de Bucelas.
Assim, convidamos os nossos leitores a passearem pelos nossos campos aproveitando os dias de sol que se avizinham, com os olhos atentos ao chão para apreciarem estas preciosidades! Mas, atenção, não esqueçam que são espécies protegidas. Bom passeio!

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