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Opinião
Florbela Estevão – Arqueóloga e Museóloga
Florbela Estevão
Arqueóloga e Museóloga

Paisagens e Patrimónios

O artesão César Pereira, o cesteiro da Chamboeira

3 de abril de 2023
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A crónica deste mês de abril tem como propósito divulgar um património que ainda persiste na região, a cestaria, ou seja, o saber fazer da cestaria tradicional. Perto de Bucelas, na povoação da Chamboeira reside o cesteiro César Pereira que no seu atelier ou oficina artesanal produz os mais variados objetos predominantemente em vime. A sua marca já está registada, CesArte e podemos também encontrá-lo na sua página do Facebook.
Ora, como todos sabemos, a cestaria é entendida como a arte de trabalhar as fibras vegetais, ou seja, é um saber fazer tradicional, um património dito imaterial que é transmitido de geração em geração e estreitamente relacionado com modos de viver. Com efeito, a cestaria permite a fabricação de um conjunto muito variado de objetos, em tamanho, formas e funcionalidades, utilizando matéria-prima como o vime ou varas de salgueiro, mas também outras fibras vegetais como por exemplo o junco, a palha, entre outras.
Assim, a cestaria compreende dois tipos básicos relativamente à técnica de fabricação de cestos ou vasilhas: o tipo entrelaçado (o qual engloba os géneros cruzado, encanado, enrolado e torcido, conforme a maneira de dispor as fibras) e o tipo espiral, com ou sem armação de sustentação.
César Pereira é um artesão jovem, trinta e dois anos, residente na Chamboeira como já foi mencionado anteriormente. Apaixonou-se por esta arte de “entrançar fios” com apenas treze anos de idade. Tudo começou há alguns anos, numa sessão ou workshop realizado pela cesteira Laura Paulino, artesã experiente que veio partilhar com os jovens estudantes da escola de Bucelas o seu saber fazer da cestaria.
Esse momento foi para César uma descoberta e simultaneamente uma motivação para conhecer as bases desta arte com a Avó Laura, nome carinhoso pelo qual é comumente conhecida. Já nessa altura, o César era um rapaz que ajudava, com prazer e interesse, o avô no trabalho da vinha numa pequena produção familiar. O cuidar das videiras, esse contacto com as plantas e a terra, o trabalhar com materiais orgânicos já revelava, segundo as suas palavras, uma certa predisposição para estar recetivo à arte da cestaria.
Começou por fazer cestos, umas peças mais simples do que aquelas que agora podemos apreciar e adquirir, bem como o empalhamento. Nessa fase inicial da sua aprendizagem o material para realizar os primeiros objetos foi oferecido pela mestre, a dita Avó Laura. Mas, desde essa altura da sua formação que tomou logo a decisão de tentar plantar as suas próprias plantas, com o objetivo de obter alguma matéria-prima, os indispensáveis vimes. Referiu que nesses primeiros tempos cultivou junto ao rio da Chamboeira, mas por azar no primeiro ano o rio lamentavelmente secou no Verão e lá se foram as plantas…. No entanto, este desaire eventualmente desanimador para alguns não o desmotivou, pelo contrário, persistiu até conseguir dominar melhor todo o processo. Hoje tem cerca de sete mil pés, mas sobre isso conversaremos na próxima crónica.
Outro mestre que ainda o acompanha, uma vez que a Avó Laura está aposentada, é o conhecido cesteiro da Malveira ou Cestaria Branco, Mário Branco, artesão entendido, mas já com alguma idade. César mencionou que tem alguns contactos com cesteiros do norte do país, mas para aspetos pontuais. Aliás, é claro ao sublinhar que cada artesão tem um modo próprio de trabalhar e procura uma certa especialização: uns dedicam-se mais ao mobiliário, a esteiras, outros aos empalhamentos, outros direcionam-se para cestaria mais tradicional, outros ainda para uma cestaria mais fina como por exemplo o fabrico de malas.
Neste caso, na oficina ou atelier do César podemos encontrar objetos como cestos de pequena, média e grande dimensão para os mais variados fins; cestos para as vindimas, malas e cestos para piqueniques, principalmente em vime, cestos para a fruta entre muitos outros. Também gosta de trabalhar o junco, a cestaria de junco, material que ainda está a aprender a dominar. Por exemplo, tem as “empreitas”, cestas ou alcofas fabricadas com uma técnica de entrelaçado mais típica do Algarve.
Questionado sobre aquilo que mais gosta de fazer na arte de cesteiro César respondeu que neste momento são os empalhamentos. Aliás, a sua imagem de marca, ou o objeto mais conhecido é o “palhinhas”, garrafa de vidro sete de meio empalhada, o que transforma um vulgar recipiente num objeto de arte! Há muitos restaurantes que já compraram este objeto. Mas, atenção, o empalhamento pode ter várias tramas, ou seja, depende da costura e do ponto. Na oficina existem garrafões empalhados, cestos para a lareira, cestos variados, por exemplo uns cestos chamados aqui na região como “cestos raposos”, há cestos retangulares de vários tamanhos que podem servir para costura, piquenique, os cestos de junco com padrões coloridos… o melhor é virem ao atelier!
(continua na próxima crónica).

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