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#vamostodosficarbem

Carne de porco à Alentejana

5 de abril de 2020
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Não são fáceis os tempos que temos vivido por via desse flagelo que está a assolar o Mundo inteiro e a fazer perder vidas, tremer economias, mas principalmente reformular formas de vida e mentalidades. Vivemos tempos de preocupação, de recolhimento, de União na responsabilidade coletiva, mas também na solidariedade e na partilha.

E é nisso que quero aqui unir-me convosco este mês. Em primeiro lugar, solidarizar-me, nestes momentos difíceis, com todos os estabelecimentos de restauração do Concelho de Loures que sempre contribuíram para a divulgação da nossa gastronomia de qualidade, - e que são a razão de ser desta nossa rubrica mensal-, mas que ultimamente se têm visto privados de exercer, de forma normal, a sua atividade.

A todos eles a nossa palavra de apreço e de incentivo para que não desistam, mas fundamentalmente de coragem e de esperança para os melhores dias que virão muito brevemente. Depois, e porque a grande maioria de nós tem vindo a permanecer em casa, dar-vos o meu contributo, este mês de forma diferente, partilhando convosco uma das coisas que mais prazer me dá. Cozinhar!

Escolhi um prato ao alcance de todos, fácil de preparar e que geralmente agrada a todas as gerações. -“Carne de porco à Alentejana”.

Enquanto a carne cortada em cubos, fica a marinar em vinho branco, com alho, sal, pimenta, colorau, louro e vinho branco, (pelo menos 2 horas), dá tempo para vos contar uma história. Alguma vez pensaram na razão de ser de a “Carne de porco à Alentejana” levar amêijoas? Já pensaram que o Alentejo - à exceção de alguns lugares na Costa Vicentina - na sua interioridade, não era propriamente rico nestes bivalves? Existem várias teorias a respeito, mas a que, a mim, me parece mais racional é a que defende que o termo terá derivado de uma “corruptela” linguística, generalizada no Algarve.

Ou seja, no Algarve, para obviar o facto de os suínos serem alimentados à base de restos de peixe e farinhas, -tendo assim um sabor menos agradável-, optaram por introduzir na sua gastronomia o porco oriundo do Alentejo, - mais saboroso e criado no campo a bolota-. A esta base, que na verdade seria a “carne frita do alguidar”, muito consumida no Alentejo, acrescentaram a amêijoa, pela sua abundância na região.

A restauração, ter-se-á encarregado do resto, pois as ementas, depressa passaram de “carne de porco alentejano”, à designação atual, “à Alentejana”, por repetição. Ora, uma vez contada a história e depois de temperada a carne, frita-se a mesma em azeite quente, ao qual se junta a marinada, depois da carne alourar. Quando a marinada começar a reduzir, acrescentam-se as amêijoas que ficam a abrir por dois ou três minutos, e antes de servir, juntamos coentros picados em abundância e um pouquinho de pickles.

E já está! Acompanhamos com umas batatinhas fritas aos cubos e um bom tinto e temos a junção perfeita. Para sobremesa, escolhi uns frutos vermelhos, que fecharam condignamente. Como podem ver é um prato fácil de confecionar e muito saboroso. Experimentem. Tornem o confinamento em casa mais agradável e descubram o cozinheiro que há em vós!

João Patrocínio

Jurista

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