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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Voltar ao respeito por nós próprios

5 de maio de 2025
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Chegados a mais um aniversário da Revolução portuguesa que rompeu com o fascismo e permitiu um conjunto de conquistas dignificadoras de um povo é sempre tempo de reflectir alguma coisa sobre o tenebroso passado, o periclitante presente e o incerto futuro.
No devir agitado e ambicioso do processo revolucionário, logo apareceram aqueles que, capciosa e maliciosamente, se lhe opunham e por isso disseminavam boatos, questionavam os avanços civilizacionais que se faziam (democratização da educação, para dar um único exemplo), procuravam desprestigiar as instituições e sobretudo os protagonistas, com o lançamento de atoardas do tipo “são todos iguais” e “querem é tacho”.
À guisa de balanço, pode dizer-se que, com importantes ajudas de serviços secretos e potencias estrangeiras que financiaram a contra-revolução, em geral, os portugueses, foram- se deixando desmobilizar, desinteressar e desligar dos processos políticos que nos deviam conduzir a um país desenvolvido e feliz, mas por mérito da rendição intelectual que concedemos, nos trouxe para o mero papel de consumidores de bens, essencialmente, produzidos noutros países e, em particular na União Europeia. E para isso, destruímos, voluntária e progressivamente, a nossa frota pesqueira, a nossa produção, a nossa agricultura. Mas também congelámos a investigação, abandalhámos o ensino, privatizámos a economia, pauperizámos a saúde, profissionalizámo-nos militarmente e deslaçámos as relações sociais.
A resultante, no nosso caso, da sempre complexa equação da vida de um povo ou de uma comunidade é, direi, a falta de respeito por nós próprios.
Permitimos que aqui se chegasse e, agora, convivemos alegremente, com o individualismo, com a maledicência, a incompetência, a ignorância, a boçalidade, o racismo, a xenofobia, a mentira. Com o nosso afastamento da participação colectiva, com o nosso desinteresse pela democracia participativa, convidámos para as funções políticas e institucionais uma vastidão de oportunistas, charlatães, vigaristas, ilusionistas políticos e até ladrões de malas.
Está tudo perdido ? Acredito firmemente que não está, embora mais difícil. Por isso, é essencial que se juntem as forças capazes de dar combate a este rumo e a esta ideologia do oportunismo-consumismo-ignorância vigente. Essa batalha, pode começar nos próximos votos ao nosso alcance, afastando os manhosos da política, conferindo o nosso voto a quem é honesto, dedicado à causa pública e nos convide para participar activamente na vida colectiva.
É tempo de voltar ao respeito por nós próprios !

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