Fora do Carreiro
Santo Antão do Tojal aqui tão perto
5 de fevereiro de 2021
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É minha convicção que uma parte substancial da população do nosso Concelho não conhece a própria freguesia em que reside. Por maioria de razão, as pessoas não conhecem as freguesias mais vizinhas e, menos ainda, as menos vizinhas.
Como se sabe, Loures, é o quinto mais populoso Município do país, portanto, temos assim a dimensão proporcional da população residente neste espaço. Infelizmente, largas dezenas de milhares de pessoas não aprecia e não valoriza o território onde nasceu ou que escolheu para viver, simplesmente porque não o conhece.
Quando não se conhece o que é nosso, deixamo-nos deslumbrar com mais facilidade por outras realidades e por outros territórios.
É apenas um exemplo, mas acreditamos que se trata de um caso paradigmático. Santo Antão do Tojal, antiga freguesia, agora constituindo uma união de freguesias com a vizinha S. Julião do Tojal, dispõe de uma área de cerca de 15 km2 e aproximadamente 4500 habitantes (segundo o já desgastado Censos de 2011, porque em 2021 é ano de nova contagem geral da população), é um território que dispõe de muito significativos elementos patrimoniais e ambientais.
Quem se mantiver no desconhecimento do seu conjunto monumental barroco, sem par na arquitetura portuguesa, composto pelo Palácio dos Arcebispos, a Igreja Matriz, a Fonte Monumental e o Aqueduto, perde uma jóia preciosa do Concelho de Loures e do país desnecessariamente. Mas perde também importantíssima parte da nossa história colectiva que parcialmente o Prémio Nobel da Literatura José Saramago imortalizou na sua obra Memorial do Convento.
De resto, o valor pode adicionalmente ser atestado – caso tal seja necessário – pela constituição da Rota Memorial do Convento, em que tomam parte os Municípios de Lisboa, Loures e Mafra e onde os valores patrimoniais de Santo Antão do Tojal são óbvia e naturalmente integrados.
Mas Santo Antão do Tojal conta ainda com valores naturais de robusto significado. Tem a única zona húmida interior da Área Metropolitana de Lisboa, o Paul das Caniceiras, onde assinale-se, foi descoberta por um grupo de biólogos, uma espécie raríssima de peixe, a Boga-de-Boca- Arqueada de Lisboa reconhecida pela União Internacional para a Conservação da Natureza como estando Criticamente ameaçada e que pode ser conhecida, actualmente, no Fluviário de Mora, como parte da estratégia para a sua preservação.
O Paul das Caniceiras, para o qual está em curso o projecto da sua qualificação como Área Protegida de mbito Regional/Local, é ainda um local ímpar de arribação de numerosas aves, desde a fuinha-dos-juncos, o estorninho-preto e o chamariz. A garça-vermelha, o tecelão-de-cabeça-preta e o bico-de-lacre, a escrevedeira-dos-caniços, o rabirruivo-preto e o pintarroxo entre outras.
E tudo isto aqui tão perto. E tantos de nós tão distantes de tudo isto. Propomos que se aproveite o confinamento para repensar o desconfinamento.
Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.