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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

O que os move?

3 de dezembro de 2016
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A um ano das próximas eleições autárquicas vão-se agitando, como se pode considerar “normal”, as máquinas partidárias, os putativos candidatos, os pretendentes a candidatos e outras personagens do processo.
Nada a objectar. Tem de ser assim mesmo, para que cada projecto – nas suas dinâmicas próprias – se constitua, se prepare e se apresente ao eleitorado. Neste contexto e a toda esta distância ainda do acto eleitoral, que entretanto, se vai encurtar rapidamente, como as nossas vidas, será oportuno referir um aspecto particular que me tem causado alguma impressão ética e política.
Lê-se nos jornais e nas redes sociais, ouve-se nas rádios ou na vox populi, que há por aí alguns esqueletos políticos, que tudo estão a fazer para tentar sair dos armários e regressar às autarquias que os notabilizaram. Isaltino de Morais em Oeiras, Narciso Mota em Pombal, Rondão de Almeida em Elvas e muitos outros.
Nuns casos saíram para outras funções onde não obtiveram o mesmo “sucesso” que nas autarquias, noutros casos, saíram forçados pela Lei de Limitação de Mandatos de 2013 ou ainda, por vontade dos partidos que representavam ou, até, porque a escolha dos eleitores foi outra.
Lançam agora, iniciativas e mecanismos vários para procurar catapultar-se de novo para a ribalta local, desde chantagens várias junto e no interior dos seus partidos, até ao lançamento de movimentos de “independentes” que suportem as suas candidaturas. Alguns deles, têm trabalho feito. Outros, nem por isso. E ainda há aqueles que foram um verdadeiro desastre para os seus concelhos. Do ponto de vista democrático têm legitimidade para se candidatar? Têm sim. Do ponto de vista legal, há algum impedimento? Não, não há.
Permita-se contudo, que se duvide que, no plano político e ético, faça sentido a sua tentativa de regresso e, porventura, nalguns casos, o regresso a funções que já desempenharam, em especial, as de Presidente de Câmara.
Estes protagonistas, estiveram no poder pelo menos 12 anos consecutivos e, uma parte deles, mais de 20 anos ininterruptamente. Uns fizeram obra, deixaram referências, outros, nem por isso, mas todos parecem partilhar uma matriz comum: São ambiciosos (independentemente da idade que têm); Precisam de notoriedade pública como de pão para a boca (alguns também precisam de emprego, porque acabaram enjeitados pelas suas casas partidárias); Deixaram clientelas de vários tipos, que conspiram, agora, com eles, para que um possível regresso ao poder, seja o regresso de todos e a reconstituição de blocos familiares e plataformas de interesses.
Dispõem-se a tornear todos os obstáculos, a enfrentar todas as contrariedades, a usar todos os argumentos. Mesmo com recurso à maior benevolência, mesmo apelando a um apurado sentimento de pureza cristã, será de crer que o instinto do eleitor, confrontado com qualquer um destes casos de regresso artificial e intempestivo, não pode deixar de se questionar sobre o que realmente os faz mover. Vontade de servir ?!... Na maioria dos casos, servir a causa colectiva seria manterem-se distantes, encontrarem outros objectivos para o seu empenho e deixarem despontar novos valores, novas opções, outros projectos, outras vontades, outras ambições.
Saber sair é nobre e confere dignidade e respeito. Portanto, o que os move?

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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