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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

O poeta merecia mais!

8 de maio de 2022
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Nós também.

A nossa democracia celebrou no passado dia 25 de Abril, 48 anos. Conseguimos equilibrar o tempo de vida em democracia, como o tempo anterior que havia sido vivido em ditadura e com um atraso tremendo que ainda hoje não se conseguiu superar plenamente. Já por aí há quem nos queira fazer retroceder ou pior. Acho que os portugueses não vão querer voltar aos tempos da miséria, da fome e da repressão, mas que parecem dispostos a que aconteçam, num país que a esta altura devia ser avançado, muitas coisas próprias da ignorância e do subdesenvolvimento, parece ser evidente. Mas deixemos, por ora, essa reflexão mais geral, para abordar alguns pormenores que explicam – também – os pormaiores com que se confronta a nossa vida colectiva.

No concelho de Loures, a maioria municipal decidiu celebrar o 25 de Abril com uma homenagem ao poeta Manuel Alegre que no próximo dia 12 de Maio celebra o seu 85º Aniversário. Primeiro, completo acordo à homenagem a Manuel Alegre. Segundo, na nossa opinião, deveria ser autónoma e não se confundir com a celebração do Dia da Revolução. 25 de Abril e o poeta Manuel Alegre têm evidentes conexões, contudo, cada um por si são credores de espaço de celebração e honra próprios. Tudo ao molho e fé no divino, tende a desfocar e a desfuncionar. Lamentavelmente, foi o que aconteceu. Nem o 25 de Abril foi assinalado com o destaque e a participação habitual em Loures, nem Manuel Alegre recebeu a homenagem que é merecida. Ou não houve profissionalismo na preparação (note-se que nem Manuel Alegre esteve em Loures) e divulgação do espectáculo ou esta homenagem intempestiva foi “metida a martelo”, a propósito de um qualquer interesse particular, que não se percebe e seria útil perceber.

Evidentemente, preocupa-nos que um poeta da resistência anti-fascista e da nossa democracia seja tratado com tal displicência, porque pode ser ilustrativo do modo como, neste ciclo político, se pensa vir a tratar os poetas, os escritores, os músicos, as bibliotecas, os museus, os centros de documentação, e, de um modo geral a cultura que não pode nunca ser sujeita a fragmentações e manipulações instrumentais, porque destrói a sua universalidade e a formação integral dos indivíduos. Por esse caminho regressaremos aos tempos da ignorância, se não do obscurantismo e do atraso.

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