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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

Donos do nosso destino

5 de fevereiro de 2021
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Enquanto deixo a caneta correr no papel (ou os dedos no teclado) para partilhar estas linhas, o nosso país já se encontra em novo confinamento. Voltámos todos para casa, desde pequenos a graúdos. A nossa vida tornou a ficar bem diferente do que aquilo a que nos habituámos durante anos.

Muitos trabalham, novamente, a 100% a partir de casa, outros tantos voltaram a ter os seus negócios fechados ou restringidos na atividade, as nossas crianças deixaram de ter o seu dia a dia escolar e social. Muitas famílias tornaram a adaptar-se à realidade de viverem cada hora, cada minuto e cada segundo em conjunto.

Com tudo isto e apesar de uma primeira versão deste novo confinamento pouco compreensível para muitos e de uma segunda com sabor a reprimenda do Governo a todos os portugueses, voltaram também, provavelmente, vários dos rituais que criámos nos idos de março de 2020.

Toda esta introdução podia fazer parecer que este confinamento é apenas mais um, apenas uma reedição do anterior, apenas um voltar atrás. Infelizmente, penso que não o é para ninguém pois a situação que atravessamos não só não é a mesma, como ainda temos todos o peso de quase um ano de alteração das nossas vidas em cima dos nossos ombros. Um peso impossível de normalizar, um peso que não pode diminuir quando cada vez mais o vírus ataca alguém que conhecemos, modifica brutalmente a nossa realidade sócio-económica e abala fortemente a nossa confiança num regresso rápido à normalidade.

Para trás ficaram as reportagens de canções à janela, dos mil e um gestos de solidariedade entre vizinhos, dos desenhos com arco-íris e mensagens de esperança e confiança.

E é com toda esta mudança de paradigma que temos que saber viver, que temos que saber continuar a caminhar, que temos que lograr seguir em frente.

Talvez seja isto uma nova normalidade ou talvez seja o momento certo de começarmos verdadeiramente a aprender com o passado recente por forma a que quem decide não cometa os erros do passado. De modo a que possamos, não chorar sobre o leite derramado, mas a ter motivos para nos orgulhar do que faremos no futuro.

Confesso que nem sempre tenho confiança de que os decisores políticos saibam escolher o melhor caminho sem olhar a estratégias, a sondagens ou a interesses político-partidários, especialmente quando penso que teremos atos eleitorais no horizonte próximo. Admito que ver o amanhã pintado de esperança nem sempre é fácil quando todos sabemos que o ser humano é, por natureza, imperfeito e não isento de falhas e que os políticos são pessoas como qualquer um de nós.

Mas que belo horizonte podemos vislumbrar se não acreditarmos que, quer na política, quer na vida, a seriedade vence o oportunismo?

Em que futuro podemos ter fé para o nosso país e para a nossa terra se não confiarmos que podemos ter os melhores e mais sérios e não apenas os possíveis e mais aprazíveis a dirigir os nossos Governos, as nossas Câmaras e as nossas Freguesias?

Que legado podemos querer deixar às gerações vindouras se não tivermos a força de romper com a comodidade e não arriscarmos em escolher quem julgamos melhor?

Saibamos aprender com toda esta crise pandémica e retirar dela o melhor que há em nós dando, finalmente, um murro na mesa e exigindo dos decisores políticos o que exigimos de nós mesmos... valores como seriedade, honestidade, lealdade, competência.

Saibamos assumir que quem decide o nosso caminho somos nós mesmos, mas que para isso acontecer temos que dizer o que queremos... sem taticismos, sem manigâncias, sem votos úteis, sem males menores. Apenas com a firmeza e a convicção de que somos verdadeiramente donos do nosso destino!!

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