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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

Debates há muitos...

2 de outubro de 2022
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Se há coisa que fui aprendendo na vida é que as pessoas são sempre mais do que as próprias julgam e ainda mais do que os outros pensam delas.
Obviamente que não me excluo desta análise. Naturalmente que tenho a noção de que aquilo que sou (ou que acredito ser) é fruto das experiências que fui vivenciando ao longo da vida. Evidentemente que além de todas estas evidências, é também um facto que todos nós temos várias facetas onde vamos, muitas vezes, arrumando em várias “caixinhas” mentais o que vamos vivendo.
Também este espaço é um pouco fruto de tudo isto e por isso, se nos últimos dois artigos foquei alguns temas menos específicos e me debrucei sobre pensamentos de carácter mais geral, neste gastarei algumas linhas sobre um tema que, além de estar ligado à actividade pública que abnegadamente desempenhei durante largos anos também se cruza com a formação académica que escolhi cursar há uns anos.
Para quem me lê com alguma regularidade ficou, no último parágrafo evidente, que a temática das próximas linhas só pode ser política.
Pois bem...
Estava um destes dias do outro lado do atlântico em terras de Vera-Cruz e, ligando a televisão, dei de olhos e ouvidos com o primeiro debate para as eleições presidenciais brasileiras.
A tendência natural seria perder-me nos argumentos e contra-argumentos com que os candidatos se mimavam. O normal seria ficar amarrado às posturas de cada um dos seis candidatos presentes. O mais expectável seria tentar pensar na escolha que faria se votasse nessas eleições.
Só que não!
Acabei por, atentamente, me prender aos aspectos relacionados com a própria estrutura do debate, às entidades organizadoras daquele evento e fazer uma comparação entre o que temos em Portugal bem como em outros países e até mesmo pensar um pouco além.
Comecemos então pela estrutura do debate... bem organizada, com vários blocos com formatos distintos onde existiram deste momentos de interacções alternadas entre os vários candidatos, até perguntas feitas por jornalistas dos vários órgãos de informação, cada um a candidatos distintos e não repetidos. Sempre com cumprimento escrupuloso dos tempos e com um mecanismo fantástico de análise jurídica e técnica da possibilidade de direito de resposta por forma a minimizar o “achincalho político” e “folclore” que tantas e tantas vezes faz os espectadores perderem o interesse nos debates eleitorais. Sem falar numa condução altamente disciplinadora por parte do moderador escolhido.
Quanto às entidades organizadoras... chamou-me à atenção a transversalidade dos vários meios de comunicação social que organizavam e participavam nesse debate. Não eram apenas um ou outro meio de comunicação idênticos ou um grupo ou outro de comunicação mas sim um equilíbrio entre tudo isto. Que lição para o normal espírito de coutadas dos meios de informação portugueses.
Em terceiro lugar... é fantástico com um país que muitas vezes tem uma imagem de ser um pouco caótico em muitos aspectos consegue organizar debates eleitorais de uma forma bem mais disciplinada e interessante do que muitos países (o nosso por exemplo) que se arrolam de terem uma cultura política bem mais evoluída do que o nosso país irmão.
Tudo isto me fez pensar...
Porque não olhamos mais para exemplos como o que descrevi para, em período eleitoral, procurarmos modelos que sejam mais atrativos para os eleitores?
Porque não procuramos experimentar outros modelos de debate tentando adaptá-los à nossa realidade?
Porque não tentamos até criar momentos anuais de debates televisivos fugindo à
dinâmica habitual de apenas ter debates em prime-time nos momentos de decisão eleitoral iminente?
Curioso como preferimos, muitas vezes, seguir por um caminho de afastamento e não por um caminho de tentar perceber os novos paradigmas. Estranho como escolhemos manter o costumeiro e não optar por romper amarras e tentar algo inovador no nosso panorama.
Sim... por vezes temos que perder dois minutos a pensar. Sim... por vezes temos que sair do comodismo e tentar crescer. Sim.. por vezes fazia bem não olharmos apenas para o nosso umbigo.
Termino adaptando a expressão de uma rábula bem antiga:
“ Debates há muitos seu palerma!! ”!
Podíamos era ter mais e melhores!

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