Opinião de João Pedro Domingues
Que triste Lula
6 de maio de 2023
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Sempre tive uma admiração significativa pela figura da Lula da Silva e por tudo o que ele representou, em termos de luta por ideais com que sempre me identifiquei, e que o levou, ao fim de muitos anos, muitas lutas e muitas derrotas, até à presidência de um país com o qual temos laços inquebráveis, e um passado comum.
A sua ignóbil prisão, alicerçada em acusações não provadas, foi para a grande maioria da opinião pública, muito contestada e repudiada.
Libertado e inocentado, destronou um déspota e perigoso aprendiz de ditador, procurando dar uma nova e sentida liberdade e autonomia a todos os brasileiros. E é de liberdade e autonomia que falo, para dizer que, infelizmente, Lula da Silva me desiludiu.
Que Lula possa afirmar que Putin, que parece ser seu amigo, não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra, é um facto incontestável. Mas como é possível que afirme igualmente que Zelensky não está também a tomar qualquer iniciativa para parar essa mesma guerra, é inaceitável.
E, pasme-se, afirmar que a Europa e os Estados Unidos da América continuam a contribuir para a continuação da guerra, é simplesmente absurdo. Dizer ainda que, acima de tudo, temos de convencer os países que fornecem armas, nomeadamente à Ucrânia, que encorajam a guerra, que parem de o fazer.
Se só os russos tivessem acesso a armas, claro que a guerra já teria terminado há muito, mas a Ucrânia, enquanto país soberano, já não existiria. E a Europa estaria ameaçada pela ambição e despotismo do ditador russo.
Lula vangloriou-se que, quer a China quer o Brasil, não impuseram sanções financeiras à Rússia, pelo que estão ambas bem posicionadas para funcionarem como mediadoras do conflito, leia-se invasão de um país soberano.
Então são os EUA que estão a encorajar esta guerra? É a Europa que promove este conflito? Lula não está bem.
Como é possível que o presidente de um país com tanta história possa afirmar que a Ucrânia pode ceder a Crimeia (anexada ilegalmente em 2014) ou outros territórios ucranianos, à custa da paz?
Claro que, friamente, se percebem estas declarações feitas em Pequim. Lula saiu de lá com acordos firmados, nomeadamente com a China.
Apesar do respeito por todo o povo brasileiro e pelos seus órgãos democraticamente eleitos, perdi a admiração pelo homem, perdi o respeito por Lula da Silva.
Cada um pode e deve ter as posições que entenda, mas como alguém já afirmou, num conflito com esta importância e magnitude para a Europa, para o Ocidente, as palavras e as ideias proferidas por Lula da Silva, são uma agressão.
Todos nós nos devemos insurgir contra estas posições, mas nunca da forma como um grupo de alarves e javardos, democraticamente eleitos, o fizeram na Assembleia da República, há muito pouco tempo.
Aquele grupo de deputados não se encontra à altura das responsabilidades que deveria ter. Mostram a todos, acima de tudo, e ainda bem, que não se encontram em condições de quaisquer responsabilidades governativas do país. Felizmente e para o bem de todos nós.
Uma última nota. Escrevi há já algum tempo atrás, um texto sobre a necessidade de construção do aeroporto no Montijo. Em que ponto estamos agora?
Já não estamos a analisar se a localização do Montijo é a melhor, mais rápida e menos onerosa solução. Não estamos já a analisar se o Campo de Tiro de Alcochete, apesar de mais demorada a sua construção e eventualmente mais cara, será a melhor opção de futuro.
Não. Apesar da maioria absoluta do partido do governo, e de se poder, e dever decidir, ao fim de estudos que duram há 50 anos, vamos agora analisar, estudar e projetar sete novas localizações e nove opções estratégicas.
Os estudos necessários iniciam-se neste mês de maio e deverão estar concluídos em novembro, com a entrega da proposta recomendando e fundamentando a localização desta importante infraestrutura aeroportuária.
Alguém acredita que estes prazos irão acontecer? Quando será que iremos ter um novo aeroporto? Ninguém com bom senso o poderá afirmar com o mínimo de certeza.
E, no fim, fica a certeza de que o Turismo, que tem sido a tábua de salvação do país e da sua economia, sem uma alternativa, qualquer que ela seja, em termos de infraestrutura aeroportuária, irá ter mais de uma década sem possibilidade de crescimento. E isso será péssimo para Portugal.