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João Pedro Domingues – Professor
João Pedro Domingues
Professor

Opinião de João Pedro Domingues

A prova de vida do Sr. Silva

4 de junho de 2023
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Alguns cidadãos, a partir de uma certa idade, têm, ou sentem a necessidade de fazer com maior ou menor regularidade, prova de vida, para que os organismos, as instituições ou simplesmente as outras pessoas, saibam que ainda existem e não querem que se esqueçam delas. E foi o que aconteceu, nos últimos dias, com o ex. Presidente Aníbal Cavaco Silva.
Todos sabem que ele sempre foi muito crítico do atual Governo de maioria socialista. E não lhe perdoa, e se calhar não se perdoa, ter dado posse, em 2015, a um Governo que, apesar de não ter ganho as eleições, formou uma maioria parlamentar e foi designado de “Geringonça”. Ter dado posse a um Governo, com o apoio dos comunistas e bloquistas, continua a dar-lhe uma grande azia.
Tem essa mágoa e, ciclicamente, não consegue evitar de dar nota disso.
Assim, o Sr. Silva, assumindo o seu estatuto de militante, e com toda a legitimidade, no encontro nacional de autarcas do PSD, decidiu apontar o dedo ao Governo e ao seu inimigo político declarado, António Costa, acusando-o de ser incompetente, mentiroso e de colocar o país no caminho da degradação política.
Afirmou ainda que António Costa perdeu toda a autoridade e não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui, e ainda que o Governo está desarticulado e não tem uma visão estratégica. Enfim, destilou veneno no seu tempo de antena de militante.
Enviou um recado para o Presidente Marcelo, avisando-o que não se deve esquecer que existe uma alternativa ao atual Governo, e, portanto, alertou Marcelo que não deve continuar com aquela treta de não existir alternativa, porque isso pode desmotivar os seus correligionários.
E avisou-o ainda, que Montenegro está muito bem preparado para ser primeiro-ministro, melhor ainda que ele no seu tempo, coisa que nem os seus companheiros de partido conseguem acreditar. E com este recado, acredito que Marcelo deve ter sorrido.
E claro que, pelo meio, ainda elogiou o mui saudoso Passos Coelho, que continua a ser o D. Sebastião laranja.
Sentiu a necessidade de mobilizar as suas hostes sociais-democratas, que não dá sinais de conseguir descolar do Chega e não dá provas de conseguir ser uma real alternativa política. E então, lá disparou nalgumas direções.
Mas, como é possível, alguém que esteve com responsabilidades de topo durante duas décadas no país, e que foi o grande responsável pela destruição do seu tecido económico, nomeadamente nas pescas e na agricultura, falar, de um modo tão violento, do presente momento político?
Apesar deste azedume e deste revanchismo declarado, o país sabe que a economia portuguesa está a conseguir dar a volta às grandes dificuldades que sentiu com os problemas associados à pandemia, à guerra da Ucrânia e, ainda, à inflação que reina pela Europa.
A economia cresce a níveis superiores aos da maioria dos outros países e, portanto, estamos no caminho certo. Desta forma, era forçoso tentar criar uma crise política artificial, para criar ruído de fundo na opinião pública e tentar desvalorizar o que está a ser bem feito.
O Sr. Silva teve uma intervenção carregada de “ódio” político. Deveria perceber, ao fim de tantos anos de vida pública, que os partidos políticos não são inimigos entre si, são antes adversários e que como tal devem ser respeitados, pois são a génese de qualquer democracia, nomeadamente a portuguesa.
Mas temos de entender que, como qualquer pessoa, para mais já com uma idade avançada, e que quer continuar a ser lembrada, tem de regularmente apresentar a sua prova de vida.
Foi isso que agora aconteceu com o Sr. Silva.

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