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Opinião
Florbela Estevão – Arqueóloga e Museóloga
Florbela Estevão
Arqueóloga e Museóloga

Paisagens e Patrimónios

A Igreja de São João Baptista na vila de São João da Talha

5 de setembro de 2020
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A localidade de São João da Talha é muito antiga, ascendendo a sua existência pelo menos ao século XII. Tendo como padroeiro São João Baptista, ao nome do santo associou-se a antiga designação de Talha, pelo que a povoação passou a ser conhecida pelo seu atual nome de São João da Talha.

Escolhi para tema desta crónica a igreja paroquial desta vila que se situa, como é sabido, na zona oriental do concelho de Loures. Como seria de esperar, é dedicada a São João Baptista, e foi classificada em 1983 como Imóvel de Interesse Público (Decreto n.º 8/83, DR, 1.ª série, n.º 19 de 24 janeiro de 1983), distinção que reiterou o seu valor patrimonial. Visto do exterior, o edifício religioso de arquitetura maneirista apresenta um aspeto sóbrio, destacando-se na fachada principal o frontão triangular com as armas de Portugal. Nesta mesma fachada podemos ainda observar, além do janelão que ilumina o interior da nave principal e do portal de entrada, um pequeno painel de azulejos. A torre sineira está recuada relativamente à fachada do templo e exibe uma cobertura piramidal quinhentista.

No interior, a nave única longitudinal é coberta por uma abóboda de berço, e possui quatro altares colaterais e um púlpito quadrado sobre uma mísula de mármore, além da pia batismal, esta última datada de finais do século XVI. O mais interessante do edifício é a capela-mor, profunda, iluminada por um janelão na parede norte, onde se destaca um interessante conjunto azulejar. A igreja em questão foi alvo de várias reconstruções ao longo da sua história. Algumas das suas caraterísticas arquitetónicas, como a cobertura da torre sineira atrás referida, apontam para uma edificação datada do século XVI. Com efeito, a data mais antiga registada no interior do edifício é a de uma da sepultura de 1530. Mas, nesta mesma centúria, no século XVI, a família Pinto Leitão terá promovido algumas obras de reconstrução ou melhoramentos no edifício. A ligação desta família a este espaço religioso está presente na capela-mor, onde duas sepulturas ostentam as pedras de armas da família Pinto Leitão. Com efeito, podemos observar no lado do Evangelho a sepultura de Manuel Pinto Leitão e de Maria de Almada, sua esposa, falecidos em 1594 e 1597 respetivamente; e no lado da Epístola a sepultura de Simão Pinto Leitão e sua esposa, Dª. Francisca Imperial. Também é possível encontrar neste templo a sepultura de Jorge de Barros, irmão do famoso humanista do século XVI João de Barros.

A capela-mor foi alvo de nova intervenção no século XVII, nomeadamente com a colocação de azulejos que constituem um dos elementos decorativos mais interessantes. Ao nível do revestimento azulejar, na referida capela, podemos identificar duas fases: à primeira metade do século XVII correspondem o lambril e enxalço das janelas com azulejos enxaquetados maneiristas (azulejos azuis e brancos); os painéis de azulejos de padrão, de tipo “tapete”, estes já nos finais do século XVII.

Relativos a um século mais tarde, existem documentos que mencionam outras intervenções neste edifício, no século XVIII. Sabe-se que em 1710 sofreu novas obras a cargo do devoto Matias Rodrigues de Carvalho, conforme vem mencionado no seu testamento. O grande terramoto de 1755 provocou graves danos no edifício, que só terá sido recuperado dessa ruína parcial em 1756, conforme nos asseguram as “Memórias Paroquiais”.

Espero que esta singela crónica alerte para o interesse patrimonial deste local, e que provoque, junto dos nossos leitores, a curiosidade e o desejo de o conhecer. De facto, o concelho de Loures, como outros da área metropolitana, afetado pela expansão populacional de Lisboa, não possui, em geral, faustosos monumentos, antes sendo uma mescla de paisagens, umas urbanas, outras rurais, onde, aqui e ali, subsistem pequenos tesouros que têm importância para a história local, para os que aqui vivem, mas também para os visitantes externos que, conhecedores já de grande monumentos como os que se encontram nas maiores cidades, se encantam ao observar estas pequenas joias patrimoniais.

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