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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

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6 de novembro de 2020
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A única coisa constante na vida é a mudança, lá dizia o filósofo.

Detesto mudanças. Tenho sempre medo. Mudar de emprego causa-me ansiedade, síndrome de impostor (quando tememos não ser merecedores), mudar de rotinas, mudar de casa… conhecer novas pessoas.Vamos ser gostados, vamos ser julgados… vão aceitar as nossas histórias, as versões de nós mesmos do que já fomos, aquilo que já passámos para ser o que somos hoje, ou seremos vítimas de escolhas que fizemos e lições que aprendemos para nos tornarmos quem somos hoje?

Somos os “eu” de hoje ou a soma das partes?

No fundo estamos todos a plantar novas sementes, diariamente.

Uma coisinha minúscula, protegida, que num ambiente próprio e cuidado se parte e delicadamente desabrocha numa mais ou menos sensível mini plantinha que tem de ser regada e exposta a condições várias para conseguir vingar.

Sem medo.

Quando se lança a semente à terra ninguém sabe o que é que vai ser. Se vai ser planta, flor, fruto, há apenas a intenção, e se for boa, cuida-se.

Se a intenção é só decorar a casa, compra-se um ramo que seca daí a uma semana, mas plantar cria uma expectativa.

É preciso pôr ao sol, regar, proteger das tempestades, podar as pontas para crescer mais forte, adubar a terra, certificar-nos que há raízes por onde nutrir.

E depois temos intempéries, dias de sol e chuvas, que fragilizam ou fortalecem a planta.

Estas intempéries da vida são os obstáculos da realidade, as discussões, as diferenças de opiniões, os limites e timings de cada um, que é preciso respeitar, deixar passar, esperar, esclarecer, numa dança às vezes muda, às vezes dolorosa, às vezes chuva-molha-parvos até que venha um clima mais ameno.

Eu sei que parece só mais uma metáfora botânica pirosa, mas já Shakespeare escreveu:

“Aprende que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores…”

NOTA: Crisântemos e Amores-perfeitos são plantas que se podem plantar o ano inteiro, basta escolhermos um solo mais ou menos firme disposto a nutrir e a germinar connosco.
De resto… é só querer.

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