Anuncie connosco
Pub
Opinião
Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

Sem fazer filmes

3 de outubro de 2020
Partilhar

É nas florestas do sobre-pensamento (vulgo overthinking) que criamos os cenários mais ou menos prováveis com versões melhores ou piores do que achamos que pode ou não acontecer que geramos uma ansiedade altamente desnecessária e nos impedimos de desfrutar das coisas que estão, de facto a acontecer.

Se está fora das nossas mãos, também devia estar fora do pensamento, já que nada podemos fazer para alterar ou influenciar o acontecimento, certo?

Errado. Maior desporto de 2020 - dar voltas à cabeça.

Não faz bem à saúde, ao coração, não ajuda em nada e não emagrece.

Mas nós, donos e senhores do que nos ocupa a mente vamos logo ocupá-la com o que não controlamos e que 99% das vezes nem acontece. Por trauma, por medos, por bagagem emocional e por teimosia.

Se quisermos desconstruir a palavra “preocupação” vejamos, temos o “pré”, um prefixo que indica anterioridade, antecedência, ou seja, algo que ainda não se verifica no estado atual, e “ocupação”, do latim occupatio, a derivação feminina singular de ocupar, significando ato ou efeito de desempenhar, exercer. Uma pré-ocupação é por si só um paradoxo. Eu não posso estar ocupada com uma coisa que ainda não existe…

Então que solução?

Vulnerabilidade.

Confiança de que, quaisquer que sejam os resultados dos acontecimentos que não conseguimos controlar nós vamos ficar bem. É aqui que pegamos nesses medos, nesses traumas e nessas bagagens emocionais, transformamo-los em armaduras e rimo-nos do que a vida já nos fez.

Nós só tememos a vulnerabilidade quando tememos a reação dos outros em relação a ela. Mas é a nossa responsabilidade defender-nos a nós próprios e estar confortável com qualquer que seja essa reação quando acontece em resultado de honrarmos a nossa autenticidade.

E claro, aproveitar o momento enquanto isso acontece, sem fazer filmes.

Última edição

Opinião