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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

No Mocho

8 de julho de 2019
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Vejo este editorial como um espacinho que tenho para falar com os leitores. Debato-me sempre com a ideia do que será que vou escrever desta vez, e normalmente o espaço nunca chega. Escreveria muito mais se tivesse espaço, conversaria muito mais consigo através do Facebook - página Notícias de Loures (pode ir lá falar comigo sempre que quiser). Sem me alongar mais em blá, blás hoje conto-lhe como foi a reportagem da capa deste número.

Primeiro a visão desértica de uma encosta amarelada cheia de cabras e galinhas que a estrada separa dos prédios da Quinta do Mocho.

Prédios que envergam arte, com habitantes com uma vida à parte.

As ruas estão sujíssimas, há lixo que se acumula perto dos contentores, móveis abandonados, sacos de plástico meio rotos. Dei por mim a lembrar-me dos filmes brasileiros com imagens dos bairros pobres, quando a 100 metros estão jardins arranjados, estradas novas e tudo está bem. E sabem que mais?

Está mesmo.

As pessoas estão às janelas e sorriem, gritam de umas para as outras e é assim que se fala com os vizinhos - com toda a gente a ouvir. As crianças estão felizes, brincam umas com as outras, conversam e riem. Estas pessoas estão à espera do Presidente, que vem hoje de visita, está toda a gente vestida com aprumo.

Marcelo Rebelo de Sousa é recebido com aplausos - veio a conduzir o seu próprio carro - e mal saiu começou logo a distribuir beijinhos e a pousar em selfies mais ou menos voluntárias.

Além do que se passou (pode ler nas páginas centrais deste número), houve quem convidasse o presidente para convívios não oficiais: “Sábado tem festa, mata-se porco, tem comida, tem bebida” - dizia uma simpática senhora explicando que guardam os porcos no parque infantil (as cercas devem dar jeito, digo eu).

Estas pessoas cantam, louvam a Deus entre palmas e versos, mais ou menos repetitivos mas com entusiasmo. O Presidente assiste, embevecido. E só por isso vou deixar o vídeo no Facebook.

É uma grande lição, esta. Estamos com problemas de primeiro mundo nas nossas vidas enquanto são estas as pessoas que sabem o que é resiliência e dar valor ao que se tem.

Fique bem.

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