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Opinião
Alexandra Bordalo – Advogada
Alexandra Bordalo
Advogada

Das Notícias e do Direito

Dia da Mulher, celebra-se?

8 de março de 2023
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No próximo dia 8 de Março celebra-se o Dia da Mulher.
Há muito se discute a acuidade de tal Dia, porque não há o dia do homem, diz-se! (por acaso até há, desde 1999, e celebra-se a 19 de Novembro)
Enfim, direi eu, que ideias e convicções tenho muitas. Claro que se celebra e deve celebrar-se.
É um dia de exigência e de conquistas.
Se por cá, as mulheres votam, têm o direito de escolha quanto a casar, a ter filhos, a abortar, a estudar, bem sabemos que assim não é em muitas partes do Mundo.
Eu, por mim, cresci a ouvir histórias de bravas Mulheres e de experiências e conquistas que estranhava, já nascida noutro tempo.
A minha Avó Materna, a Cândida, aquela com quem cresci, nasceu em 1901. A minha Filha nasceu cem anos depois!
A minha Avó não podia votar, a liberdade de escolha e movimento era limitadíssima. Tinha uma Prima, de idade próxima, com o magistério primário, e que concorreu às Finanças. Pois, contrataram o marido, semianalfabeto e ela foi criar cabras para fazer queijos! Mas os serões eram passados a escrever os ofícios das Finanças e produzir trabalho que o marido não sabia fazer.
A minha outra Avó, talvez com menos 15 anos, ficou nos anos da Guerra, da II, a criar 5 filhos praticamente sozinha, pois o meu Avô, seu Marido, era da Marinha, e quando, anos mais tarde, foi feito prisioneiro de guerra, da outra, na India, sozinha ficou a querer saber de notícias junto da Marinha e do Governo que os preferia ver mortos à desonra de os ver rendidos e prisioneiros.
A Tia Marquinhas, irmã da minha Avó Cândida, viu-se viúva no Brasil, com 4 filhos e um enteado. Ali prosseguiu os negócios e actividades do Marido, comprou, vendeu, negociou, investiu e vingou com muito sucesso.
Na longínqua Almendra, terra a que o meu lado materno pertence, foi uma prima da minha Mãe a primeira a usar calças. Vinha de Moçambique, viajava regularmente para a África do Sul e passeava-se de calças. A aldeia assomava às portas e janelas!
A minha Mãe, como antes a sua Prima Luisinha, aos dez anos de idade foi para um Colégio interno no Porto. Só regressava a casa no Natal, na Páscoa e no Verão. Aos 20 dava aulas nas aldeias perdidas do Gerês e pouco depois lançava-se à aventura, embarcando para Moçambique. Anos depois regressada sem nada, compunha o salário de professora com quilómetros de crochett que vendia.
A minha Madrinha e a sua Irmã Mary, em terras outrora chamadas Lourenço Marques, trabalhavam desde cedo, e cursavam a escola comercial depois do trabalho, para assim progredirem.
As minhas Tias de Viana, emigradas para Paris de França, sem saberem uma palavra de francês, primeiro nos bidonville e depois com múltiplas horas de trabalho nas costas, sempre sorridentes, com aquele jeito minhoto, quase malandro, de quem tudo suporta porque gosta, de verdade.
Se os costumes, a evolução das leis e das gentes, o fim do salazarismo e a modernidade dos retornados, transformaram o país e nos deram direitos iguais, lembremos que não basta estar escrito que existe para que, de facto, exista.
E assim é.
As mulheres ganham menos que os homens.
Em 2020 a Federação Portuguesa de Futebol queria estabelecer um tecto máximo de salário para o futebol feminino, como aqui denunciámos.
Apesar das quotas e das leis da paridade, são em muito menor número, as mulheres em posição de poder e destaque.
Mantêm duplas funções que persistem até hoje. Sim porque ainda são na maior parte das famílias o pilar das tarefas domésticas e cuidados aos filhos.
E aqui a culpa é das mulheres! Hoje mães, amanhã sogras!
O acesso ao ensino, ao voto, ao trabalho e à liberdade de escolha, sexual e de procriar, são conquistas relevantíssimas.
Mas, ainda são as mulheres as primeiras a ficar sem emprego, as últimas a ser escolhidas, e as únicas a quem o estigma da maternidade é defeito ao invés de benefício.
Obrigada às operárias da revolução industrial, às professoras deslocadas em aldeias que abriram horizontes e ensinaram as letras, às sufragistas, às sindicalistas, às firmes mulheres que ousaram ser o que queriam e para tanto batalharam.
Obrigadas às minhas, de casa, que me ensinaram, inspiraram, e educaram. As Avós, a Mãe, as Tias, a Madrinha. E ao meu Pai, um homem moderno, que queria que as filhas estudassem e fossem, sempre, independentes.
E somos!

Feliz Dia da Mulher.

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