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Entrevistas

A vocação para ajudar quem mais precisa

Associação Luiz Pereira Motta

5 de fevereiro de 2022
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A Associação criada por Luiz Pereira Motta (ALPM) é uma instituição secular no concelho de Loures. Apoia de forma solidária milhares de pessoas quer de terceira idade, quer na infância. Apoia ainda famílias carenciadas e vai abraçar, num novo projeto, o apoio a deficientes.

Estivemos à conversa com José Maria Lourenço, presidente da Direção, Luís Patrício, o tesoureiro e Isabel Plácido diretora técnica da Associação Luís Pereira da Mota e aqui vos deixamos a novidades.

Quem foi Luiz Pereira Motta?

O Luiz Pereira Motta poderia ser o Champalimaud de há dois séculos atrás, um homem muito rico, muito religioso, solteiro sem descendência e que, no final da sua vida, procurou transformar a sua riqueza em ação social, apoiando várias instituições, a maior parte delas aqui na região de Lisboa.

Ele tinha uma propriedade aqui, no concelho de Loures, e o rendimento auferido foi dado a uma ordem religiosa de Loures, a Ordem Terceira de São Francisco.

O Nome da IPSS surgiu anos mais tarde com a implantação da República. As ordens religiosas foram extintas o que as obrigou a readaptarem-se.

Loures teve a sorte de ter católicos republicanos, dos que proclamaram a República a 5 de outubro, que também eram membros da ordem religiosa. Para eles, o projeto social não podia terminar.

Assim, mudaram os estatutos da instituição, os irmãos passaram a sócios, a mesa administrativa passou a administração e os livros continuaram os mesmos.

A associação com esta nomenclatura aparece na República com o mesmo tipo de intervenção da ordem e, na tal noite escura de 48 anos, de ditadura, a instituição fez, de forma caritativa, continuar a ajudar todas aqueles que mais precisavam.

Concretamente apoiando com esmolas, com apoio financeiro, géneros, medicamentos e com guarida, do que há data se chamava, pedintes. Ajudava ainda a realizar os funerais daqueles que não tinham condições para os pagar.

 

Qual a vantagem de ser sócio da associação?

Ser sócio da associação é uma maneira de estar na vida, é como ser sócio dos bombeiros ou de um clube desportivo. É uma forma de ajudar.

Significa ser solidário com os que mais precisam.

Na infância os que são sócios (ou os seus filhos) têm uma redução de cerca de 50% da inscrição e, aos idosos, traz-lhes algumas prioridades nas admissões das diferentes atividades.

 

Que respostas sociais tem a ALPM?

Começando pela terceira idade, a ALPM tem em Loures uma estrutura residencial com 68 utentes e tem na Apelação uma estrutura para 131 pessoas. Dá apoio domiciliário a 100 utentes em Loures e mais 20 na Apelação. No centro de dia tem capacidade para 40 utentes (reduzida agora por causa do COVID), depois tem o clube sénior com atividades diárias, como ginásio ou informática, por exemplo.

A nível da infância tem o berçário, a cresce, a cresce familiar ao domicílio com 12 amas, o pré escolar e o ATL que acompanha até ao 9º ano. No total tem cerca de 500 crianças envolvidas em todos os projetos.

No apoio à comunidade trabalha com o RSI e o serviço de atendimento integrado com uma equipa com 2 técnicos que tratam cerca de duzentos agregados.

Tem ainda uma Casa de Acolhimento que recebe crianças que estão em risco e que, por decisão judicial, são pela ALPM acolhidas dos 0 aos 25 anos, com capacidade para 16 crianças e adolescentes.

Tem ainda programas alimentares com a criação de cabazes para cerca de 200 agregados, que chegaram a ser 400 na pandemia, que vêm mensalmente recolher cerca de 12 toneladas de alimentos (outro projeto, com excedentes do Banco Alimentar que recolhe e distribui). Oferece ainda outros bens recolhidos como eletrodomésticos, entre muitas outras coisas.

 

A pandemia perturbou, e muito, o vosso trabalho. Como conseguiram dar resposta?

Foram, os momentos mais difíceis que nós vivemos, pelo menos nos últimos 43 anos desde que cá estou. Muito pesado psicologicamente, na pressão das famílias e no medo que gerou. Mas que tentámos resistir. Os efeitos formam devastadores, na saúde, nos isolamentos e até na morte que por aqui passou. Perdemos vidas. Além disso gerou uma maior dependência dos idosos e teve efeitos financeiros terríveis. Uma espécie de terramoto que nos passou pela frente.

O início da pandemia foi muito complicado, reorganizar equipas, absentismo e obrigou-nos a repensar a nossa forma de trabalhar. Hoje já lidamos de forma diferente com a situação. E já conseguimos dar outro tipo de resposta.

O trabalho dos colaboradores foi extraordinário e todos mostraram muita disponibilidade. E acabámos por reconhecer outras capacidades nos mais de 320 colaboradores e trabalhadores desta organização.

 

Como conseguiu manter a direção coesa neste período?

A ultima eleição foi em dezembro de 2020. Num dos momentos que estávamos arrasados com as dificuldades da pandemia.

Falámos e decidimos que não seria nos momentos difíceis que se abandonava o barco. Lutámos pelo equilíbrio financeiro, para que a ALPM dê resposta a todos os que precisam. Assegurámos os postos de trabalho e fomos em frente. Ninguém saiu do barco, estamos numa recuperação lenta, mas efetiva e duradoura.

 

De que forma se processa o financiamento desta casa?

Essencialmente temos 3 fontes de financiamento na associação: as mensalidades que os utentes pagam em função dos seus rendimentos, os acordos estabelecidos com a Segurança Social e, claro, as quotas de sócios e os donativos como os do Banco Alimentar, do Continente e o do Pingo Doce e de outras empresas que nos vão ajudando, quer em dinheiro, quer em espécie.

Temos um orçamento para 2022 que ronda os 6,4 milhões de euros, cerca de 3,6 milhões de apoios da Segurança Social. Ainda existe um apoio por conta do IRS, cerca de 20 mil euros. Aproveito para deixar aqui o nosso NIB: PT50 0045 5140 4001 2153 82789 (a ALPM, passa recibo de donativo e, para tal, é necessário que seja facultado o nome completo, morada e NIF).

Nos gastos, cerca de 4,3 milhões são para ordenados e o restante para as demais despesas. Temos encargos financeiros de cerca de 38 mil euros, pois fizemos este grande investimento no edifício principal e pedimos cerca de 4 milhões de euros, dos quais devemos cerca de 2,4 milhões.

Desde que tenho memória, nas últimas décadas, só houve um ano em que houve prejuízo, 2020, o ano da pandemia, cerca de 134 mil euros. Os custos aumentaram e a atividade da infância reduziu significativamente as receitas. Em 2021 com as contas quase encerradas vamos ter um resultado positivo.

Tivemos apoios importante como da CM Loures cerca de 100 mil euros em dinheiro em 2021 (em 2020 tivemos apoio mas de alimentos).

Também o governo nos deu apoio específicos que nos permitiram reduzir o prejuízo já em 2020.

Quando não há dinheiro não há capacidade de pensar nas outras coisas.

Em 2020 necessitamos pedir um empréstimo de 450 mil euros de tesouraria e temos cumprido todos os nossos compromissos dentro das datas acordadas.

Sem dinheiro não há social.

 

Que tipo de relação tem a Associação Luiz Pereira Motta com a autarquia e o governo?

De grande respeito mútuo por uns e outros. Ao longo dos anos, na autarquia, já passaram vários tipos de administrações autárquicas, sempre no respeito e na colaboração, com momentos mais baixo e mais altos, mas sempre com correção.

Todos somos parceiros e temos objetivos comuns: dar resposta às necessidades das pessoas; dar resposta contra a pobreza e isso não tem cor política.

Temo-lo conseguido fazer.

 

E no futuro, da ALPM, o que podemos esperar?

Vamos avançar para a área dos deficientes. Uma ideia antiga mas financiamentos não havia.

Hoje já temos um equipamento e procuramos fazer o acordo com a Segurança Social.

É um equipamento cujo objetivo é a Ocupação de Tempos Livres e formação profissional, considerando a integração no mercado de trabalho e a integração em atividades socialmente úteis.

Esperamos que dentro um mês esteja a funcionar, um equipamento excelente, prático, bonito e acolhedor para receber 25 utentes. Está concluído.

Nesta área da deficiência estamos a desenvolver um lar residencial, em que parámos as obras que estavam a nosso encargo, e acreditamos que vamos ter agora financiamento do PARES em cerca de 500/600 mil euros que é o que falta para estar a funcionar.

Sabemos que há a intenção de aprovar o projeto mas ainda não está aprovado. Se vier a aprovação, dentro de 1 ano e pouco temos o equipamento a funcionar.

O lar residencial é algo que preocupa muito os pais que têm medo do que possa acontecer aos seus filhos quando morrerem.

Na área da infância estamos a acabar umas obras de adaptação para aumentar a resposta na creche. Vamos ter mais 42 lugares e que em breve estarão prontas, já pedimos as autorizações à segurança social e a resposta tarda em chegar.

Ainda na infância vamos avançar, pois já temos o projeto aprovado, na CM Loures, dentro do PRR para construirmos uma creche em S. Julião do Tojal, um equipamento que não existe nesta localidade.

Na área de idosos fomos convidados a gerir um equipamento de idosos em Odivelas, que é da Segurança Social. Esteve a ser gerido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e acabou abandonado por falta de condições segundo que julgo saber. É um lar que está há 7 ou 8 anos fechado. Pegámos na ideia fizemos projeto, candidatámo-nos ao PARES e não foi aprovado. Desenvolvemos agora esforços para que dentro do PRR tenha viabilidade junto das entidades competentes.

E é isto… a área da infância, de apoio aos mais idosos e também aos deficientes, agora para que estamos vocacionados e preparados.

 

Nota final

Estamos desejosos de voltar a ver este espaço cheio de pessoas que o usavam como se fosse seu, nas visitas, na utilização das nossas salas e que as pessoas fiquem cheias de saúde e capacidade para nos visitarem e voltarmos a ter o convívio que esta casa sempre propiciou.

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