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Entrevistas

Entrevista a Ricardo Leão

"As pessoas são a minha prioridade"

6 de novembro de 2021
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ENTREVISTA EM VÍDEO AQUI

 

Do acordo com o PSD às acessibilidades, passando pela saúde, pela educação e pela habitação. Ricardo Leão, em grande entrevista, abordando de forma frontal todos os temas do presente e do futuro do nosso concelho.

Ricardo Leão é o novo Presidente da Câmara Municipal de Loures. Nesta grande entrevista que, também, pode assistir no Youtube e no Facebook do Notícias de Loures, abordamos os temas essências do nosso concelho.

 

ACORDO PS/PSD

 

O Porquê deste acordo com o PSD e qual o modelo definido?

A população deu-me um mandato para 4 anos sem maioria absoluta. E, por isso, tenho de trabalhar. As maiorias absolutas não se pedem, conquistam-se com trabalho.
Assumimos compromissos com a população que vamos cumprir, para ter essa maioria absoluta daqui a 4 anos.
Numa leitura realista dos resultados eleitorais, procurámos ter paz e serenidade, para resolver os problemas das pessoas. Procuramos ter estabilidade governativa.
Queremos cumprir com o que nos comprometemos e queremos estabilidade para não andar 4 anos em guerras políticas.
Não é inédito, já se fez no passado e, por isso, acho estranho o comunicado da CDU que, em 2013, também fez acordo como PSD. Não percebo onde está o espanto.

Que pelouros terão os vereadores do PSD?

O PSD terá o departamento do ambiente, as atividades económicas, o turismo, a museologia e as bibliotecas. Foram estes os pelouros que ficaram na laçada dos vereadores do PSD.

 

ACABAR COM O MEDO

 

No discurso de tomada de posse falou em acabar com o medo. A que medo se refere?
Naquilo que ouvíamos na rua de muitos funcionários da Câmara. Sempre que falavam comigo tinham medo de quem estivesse a ver ou a ouvir a conversa. Um clima de perseguição e de terror, no sentido de com quem as pessoas se relacionavam. Se se relacionavam com pessoas do PS ou comigo em particular.

Pouco me interessa se as pessoas são azuis ou cor de rosa. Quando estão ao serviço da CM Loures têm de servir a CM Loures. Estão a servir a população do concelho. Pós horário laboral pouco me importa qual a ideologia ou a crença religiosa.
Só peço respeito e profissionalismo ao serviço da CM Loures.

 

SIMAR

 

De que forma Loures e Odivelas vão partilhar a gestão dos SIMAR?

Há uma nova lei que já permite que os Conselhos de Administração dos Serviços Municipalizados possam ser contratados no exterior. Como sabe, anteriormente, o Presidente e os Administradores tinham de ser eleitos autárquicos.

Assim, podemos contratar profissionais habilitados.

A decisão que eu e o Presidente de Odivelas tomámos foi o assumir da presidência dos SIMAR no modelo que já havia. Eu assumo os primeiros 2 anos e depois o Presidente Hugo Martins, os últimos 2 anos do nosso mandato, como Presidentes do Concelho de Administração dos SIMAR.

Para entenderem a importância que nós damos aos SIMAR.

A situação financeira dos SIMAR com prejuízos de 3,5 milhões no ano passado preocupa-o?

A previsão deste prejuízo é ainda superior para este ano. A crise pandémica prejudicou e muito as contas dos SIMAR.

Temos requisitos legais para cumprir. Temos de equilibrar as contas como pede a entidade reguladora, mas, a solução imediata não pode passar pelo aumento de tarifas. A decisão que já tomei é que não vamos aumentar tarifas, não é por aí que vamos criar a sustentabilidade financeira. Até porque os SIMAR não prestam o serviço que deviam prestar. E a culpa não dos trabalhadores, a culpa é de uma visão de gestão que tem de ser alterada.

Há o negócio do abastecimento de água, do saneamento básico e o negócio dos resíduos. Que é aquele que mais contribui para o défice financeiro. Por isso é aquele que temos de atacar, a questão dos resíduos.

Temos de assegurar um serviço de qualidade. Mudar o modelo de privatização que existe na recolha de resíduos.

Contentores que necessitam de ser substituídos, localizações erradas em cima de passeios.

Temos também de aproveitar o PRR- Plano de Resolução e Resiliência para dar resposta a problemas como estes.

Equaciona privatizar a água do concelho?

Há soluções. E nenhuma delas passa pela privatização. Não é por uma mentira ser dita 1000 vezes que se torna verdade.

Temos muitas propostas para melhorar o serviço mas nenhuma das soluções passa pela privatização.

A qualidade da água é boa mas o serviço tem de melhorar. Há muitas roturas, muitas interrupções de serviço…

O essencial é um serviço público de qualidade, assumir a responsabilidade financeira e reduzir ao mínimo o défice financeiro existente numa gestão adequada.

 

GESLOURES

 

Que mudanças equaciona implementar no modelo de gestão da GESLOURES?

Quando cheguei à Câmara em 2001 a GesLoures geria as piscinas de Loures, e se bem se recorda as piscinas eram um balão, uma piscina coberta por um balão degradado. E fomos nós que fizemos as novas piscinas de Loures, da Portela, de Santo António dos Cavaleiros e as de Santa Iria da Azoia. Hoje a GesLoures tem um negócio que lhes permite ter ganhos de economia de escala que não tinha. Hoje a GesLoures gere quatro piscinas de grande dimensão e de grande qualidade.

Mais do que criar um novo modelo, o objetivo é rentabilizar ao máximo o existente.

Eu dou um exemplo: na Portela, muitas pessoas mais idosas, preferem ir às piscinas do Parque das Nações do que às da Portela. Há pessoas de Santa Iria da Azoia que preferem ir às piscinas da Póvoa de Santa Iria do que às de Santa Iria. Não há dinâmica da sociedade civil com as piscinas locais.

O que penso é envolver as juntas de freguesia na gestão e nas Assembleias Gerais da GesLoures. A gestão anterior nunca quis ouvir as juntas e isso é algo que quero deixar claro: eu dou muita atenção ao que as juntas dizem e pensam. São os que estão mais próximos das pessoas. Se conseguirmos dar este passo com uma maior dinamização e participação das pessoas do nosso concelho, damos um passo enorme.

 

LOURES PARQUE

 

Que visão tem para os parques pagos do concelho? Aumentar a zona paga?

O estacionamento tarifado resulta em zonas de comércio e de grande rotatividade de veículos, como são exemplo Portela, Moscavide e Prior Velho. Tudo o resto tem de ser pensado.

Sou contra uma generalização da existência de parquímetros no nosso concelho.

E quanto às tarifas?

O Presidente de Junta de Moscavide e Portela, Ricardo Lima, falou da isenção de parquímetros na Portela, aos sábados e domingos, para ajudar os comerciantes, que precisam de clientes e dinâmicas. Mas nunca foi ouvido.

Não equacionamos aumentar tarifários e equacionamos reduzir as zonas pagas ou os períodos das zonas pagas.

Outro exemplo é o parque de estacionamento em Sacavém (que foi construído na gestão do PS) estar sempre completo. Nunca ninguém percebeu porque é que o parque, durante o dia, está sempre com a placa a dizer “completo”.

Não está completo.

A Loures Parque é que usa parte substancial do parque subterrâneo, que custou milhões de euros, para os carros rebocados. Tem de haver obviamente outro sítio para os colocar. Não pode ser num parque subterrâneo, no meio de uma cidade com graves problemas de estacionamento. É preciso mudar a gestão.

Eu vou tirar a gestão daquele parque de estacionamento da Loures Parque e entrega-lo à Junta de Freguesia de Sacavém e Prior Velho, e dentro de um ano vamos ver melhorias substantivas.

As juntas estão mais próximas e sabem o que as pessoas precisam.

 

EDUCAÇÃO E DESPORTO

 

Que mudanças pensa fazer na área da educação e desporto e nas nossas coletividades?

Quero um movimento associativo dinâmico, mas não controlado. É uma diferença ideológica da gestão anterior.

O movimento associativo é de extrema importância. Grande parte da cultura e do desporto são as coletividades os grandes promotores. Os autarcas atribuem apoio e não é nenhum favor. Mas, fica uma nota, elas que contribuam para trabalhar, mesmo de verdade. Aquelas que funcionam como braços armados, com um tipo de visão ideológico, não contribuem para a comunidade.

Temos de criar condições no desporto, na cultura, nos ranchos folclóricos, na música. Temos de voltar ao que tínhamos criado no passado.

Como era no passado?

Em 2001, quando tive esse pelouro, as atividades de enriquecimento curricular começaram a surgir, ao invés de as atribuir a empresas privadas percebi, num projeto piloto, que as nossas coletividades estavam prontas para receber e implementar as atividades curriculares.

Em Sacavém, desenvolvemos um projeto com a Academia Musical de Sacavém. Eles estavam numa fase descendente da sua banda porque, como sabemos, é difícil envolver a juventude. Só por colocarmos a coletividade a trabalhar com os mais jovens permitiu, por si, dar nova vida à coletividade. No desporto, o Sacavenense fazia a formação desportiva mas, infelizmente, nestes últimos anos a gestão CDU desmantelou este modelo. E é importante, não só pelo apoio financeiro que se dá às coletividades mas, acima de tudo, por essa missão de rejuvenescer os projetos.

 

HABITAÇÃO SOCIAL

 

O que pensa fazer no parque habitacional de habitação social?

Temos um instrumento único que não vamos, provavelmente, voltar a ter na nossa vida, o PRR. Entre outras áreas, para a habitação, o governo atirou uma grande fatia.

Competiu à Câmara de Loures, há poucos meses, fazer a Estratégia Local de Habitação. Esta Câmara tomou decisões com as quais, em parte, não concordo.

Já tive oportunidade de dizer ao ministro Pedro Nuno Santos isso mesmo. Para podermos reverter, rapidamente, algumas das decisões. Porquê?

Temos moradores de todas as raças e etnias nos nossos bairros, e temos de pensar em fazer política séria de habitação social.

Bernardino Soares pensou criar mais 1000 fogos em bairros que já estão claramente «guetizados». Ao invés de criarmos mais habitação social nos mesmo bairros, temos, de uma vez por todas, de fazer política social.

Os únicos fogos que foram criados para os mais jovens foi em Santo António dos Cavaleiros, num mandato PS.

Nestes 8 anos a classe média e os jovens foram completamente ignorados.

Os nossos bairros municipais vivem problemas graves.

Muitos moradores não pagam a renda e não conservam o espaço mas também a Câmara não tem feito a manutenção que é devida. Isto é uma bola de neve, em que ninguém já sabe de quem é a culpa. Por isso, é essencial, assumir um novo compromisso, um novo ponto de partida.

A Câmara vai ter de fazer o que é devido, e por isso vamos avançar com um plano de obras nas casas dos bairros sociais para que haja dignidade.

A CDU pintou as fachadas dos prédios na Quinta do Mocho e na Quinta da Fonte só «para inglês ver» porque dentro das casas foi zero de intervenção. As pessoas vivem dentro das casas. Alguma as pessoas vivem de forma indigna. Mas, as pessoas vão ter de cumprir com o que lhes é exigido, por isso é um novo acordo, vamos requalificar os bairros mas as pessoas vão ter de cumprir com as rendas e com a manutenção daqueles equipamentos. Se todos nós cumprirmos vamos no rumo certo se uma das partes não cumprir tem que haver consequências.

Não podemos dar razão a discursos xenófobos.

E quanto a Habitação para os mais jovens e para a classe média?

Na reunião em que falámos com o ministro, afirmámos que temos de acelerar a oferta de habitação a preços controlados para a classe média.

É difícil pagar-se os 700/800/900 euros que custa uma renda no nosso concelho.

Há muitas soluções. Um exemplo, retomar as parcerias da década de 90 das cooperativas de habitação. A recuperação de centros históricos das nossas freguesias como Sacavém e Camarate por exemplo, para fazermos contratos de parceria com privados para criarmos habitação a preço acessível.

Ao invés de urbanizadores pagarem taxas podem dar «x» fogos para termos mais fogos para colocar no mercado de arrendamento.

E sem esquecer as AUGI’s, as Áreas Urbanas de Génese Ilegal. 30% das pessoas vivem em casa ilegais e a responsabilidade é de todos os que tiveram nos executivos camarários. Mas vamos conseguir ter uma nova visão e novas medidas para que as AUGI’s deixem de ser uma marca deste concelho.

 

AMBIENTE E MOBILIDADE

 

Em relação ao METRO para quando o podemos esperar?

Relativamente ao Metro pode dizer-se tudo mas deve-se à coragem do nosso primeiro ministro António Costa em inscrever este projeto no PRR o ele chegar a Loures. A verdade é esta, foi o PS e o António Costa que o fizeram.

Ainda hoje de manhã falei com o Presidente de Administração do METRO. Na zona Norte em modo superfície estará pronto até 2025. Até porque o PRR a isso obriga.

Na zona Oriental em modo carril elétrico rápido será para 2026/2027 em função do próximo quadro comunitário de apoio, com a garantia do Governos que já há essa verba cativada para a expansão do metropolitano até lá. Acreditamos que esta década o problema do Metro em Loures estará resolvido.

Como pensa melhorar a mobilidade e as acessibilidades?

A saída da A1 na Bobadela é uma intervenção necessária que só não está pronta pela visão doutrinária que a CDU tinha. É tecnicamente possível. E a CM Loures durante 8 anos dizia que era responsabilidade do Governo. As pessoas querem os problemas resolvidos e a CM Loures tem de estar envolvida em todos os projetos, em todas as soluções. Se não houver financiamento por parte do Governo, eu faço a obra. Imputando as despesas da parte do Governo, eu faço a obra.

Digo de forma frontal que está no acordo com o PSD, se houver necessidade de haver financiamento bancário para fazer a obra fá-lo-ei, pois esta obra não pode continuar a ser adiada.

Faremos ainda a ligação à segunda circular a Sacavém e a variante de Loures. A requalificação quer da Nacional 8 quer da Nacional 10, aliás na Nacional 10 é gritante quando entramos na rotunda de Santa Iria parece que entramos noutro mundo, no lado de Vila Franca toda embelezada e em Loures toda suja, feia e pouco segura.

 

SAÚDE E SOCIAL

 

Naquilo que acreditamos ser a saída da pandemia, como vê o apoio autárquico à melhoria dos serviços de saúde e da área social no concelho?

Temos de aproveitar ao máximo o programa PARES. Temos de melhorar as parcerias com as IPSS’s e fazer o alargamento dos centros de dia no nosso concelho.

Nos centros de saúde estamos como estamos pela visão do CDU neste concelho, mas Amadora, Odivelas, Sintra, Oeiras e Vila Franca, fizeram nestes últimos anos 3,4,5,6 centros de saúde e em Loures, fez-se apenas um, ali em Santa Iria da Azoia, financiado a 100% pelo Governo, diga-se.

Não basta colocar faixas. Posso-lhe garantir que quer por via do PRR ou por via do orçamento de estado, ou por via do orçamento municipal, vou construir 3 novos centros de saúde. O do Catujal, o da Bobadela e dos Tojais irão ser feitos.

Esta é nova visão em parceria com o Governo, que já tive oportunidade de falar com a Senhora Ministra Marta Temido.

E pensa concluir os centros de saúde neste mandato?

Sim, penso concluí-los neste mandato e não cometer o mesmo erro de estar com o concelho todo em obras no mês das eleições daqui a 4 anos. Estes três centros de saúde são prioritários.

 

FUTURO E ECONOMIA

 

Que visão tem do desenvolvimento económico de Loures?

Loures por vezes é uma coisa que não se percebe. Com esta proximidade de Lisboa, com acessibilidades, com transporte rápido, que vamos ter pela expansão do metropolitano, com terrenos disponíveis, nós vamos ter uma visão diferente do que tivemos. Estamos muito caracterizados pelo setor da logística. É um setor que ocupa muito espaço e deixa pouco valor acrescentado. Temos de trazer empresas de valor acrescentado, da tecnologia, da ciência, da inovação, se soubermos atrair essas empresas que precisam de emprego qualificado e habitação adequada reteremos valor acrescentado.

O Hospital Beatriz Ângelo pode ser um «cluster» nas empresas ligadas à saúde e à ciência e podemos atrair empresas.

O Tagus Park é um bom exemplo, e se Oeiras conseguiu porque é que nós não haveremos de conseguir?

Mas, claro, em paralelo não podemos esquecer as Micro e pequenas empresas, Cerca de 70/80% do emprego é criado por estas empresas e pelo comércio local. Temos de estar ao lado do comércio local.

Um exemplo de apoio que dou é nas candidaturas ao PRR. Temos de contratar os melhores para nos ajudar a aproveitar o PRR, mas vou preparar essa equipa técnica para ajudar a autarquia nos eus projetos e ao lado do comércio local para poderem obter os seus apoios. A Câmara vai dar esse apoio.

Como gostaria que as pessoas se lembrassem de si daqui a 4 anos?

Para já, espero fazer um segundo e um terceiro mandato e, por isso, espero fazer esse balanço só no fim.

Espero que se lembrem de mim como sou, uma pessoa que sempre viveu aqui, tem a sua família aqui, tem uma paixão por isto. Eu respiro Loures, e espero nunca mudar. Que me vejam sempre com os mesmos olhos.

Eu quero continuar a ouvir as pessoas.

O melhor contributo que posso ter para o mandato autárquico. Quero que essa proximidade me caracterize.

 

NOTA FINAL

 

Quer deixar alguma nota final, Ricardo, aos Munícipes?

As pessoas conhecem-me e sei que tenho de me focar nelas. Não irei pensar em nada que me distraia da educação, saúde, habitação e acessibilidades.

Não irei perder um minuto em tricas políticas. Com a novidade de envolver as juntas de freguesia neste projeto. Comigo, contam com o foco sempre nas pessoas.

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