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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Terramoto em 2755?

5 de novembro de 2018
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Não sabemos. Até há pelo menos uma geração atrás estávamos todos mais ou menos conscientes de que Lisboa está, como referiu há um ano, ao DN, o especialista Mário Lopes, "sentada em cima de epicentros" sísmicos.

O Professor no Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, assinalou que “a região do Vale do Tejo, Vila Franca de Xira até Santarém é uma zona de falhas que estão no próprio leito do Tejo e são as piores que existem no continente português". Desconfio que hoje está muito menos presente a consciência geral do risco que impende sobre Portugal e, em particular, sobre esta zona.

Evidentemente, temos de continuar a nossa vida. Não podia ser de outra maneira. Contudo, seria avisado que continuássemos conscientes do risco e, sobretudo, que essa consciência nos leve a agir, preparando-nos para o que aí virá, embora não saibamos quando. Que me aperceba, nos últimos 20 anos, praticamente nada tem sido feito para nos prepararmos para o previsível evento. As nossas crianças não estão a ser treinadas nas escolas, nos serviços e equipamentos públicos não há planos de resposta e defesa, a ocupação do território não está a ser organizada em função do problema, os edíficios construídos e reabilitados – suspeito – não o são adoptando as adequadas técnicas de resistência sísmica, os serviços de protecção civil não parecem estar dotados de meios para um fenómeno de larga escala.

Estou em crer que se justificam, como em tudo, respostas locais, mas a previsível extensão dos impactos de um tal acontecimento, em toda a região de Lisboa, quer na margem norte, quer na margem sul, exige outros patamares de prevenção, planeamento, preparação e intervenção.

Portanto, em primeira linha o governo da república, seja ele qual for, não pode continuar a assobiar para o lado como os seus antecessores desde há dezenas de anos.

Desde logo, os planos de emergência existem, mas são accionáveis apenas após a ocorrência e como se diz no PEERS-AML-CL (Plano Especial de Emergência para o Risco Sísmico na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e Concelhos Limítrofes (CL)) este “é complementado por um Programa de Auto-Protecção e Resiliência (PAPER) o qual se destina a divulgar o Plano e a antecipar as respostas das comunidades locais e da sociedade, no seu conjunto, às consequências de um evento sísmico com elevada gravidade.” Portanto, o risco é elevado, as autoridades têm boa consciência disso, mas a prevenção, preparação e treino estão na gaveta. Depois de acontecer, bem podemos invocar o todo-poderoso. Todo o mal já estará feito e toda a irresponsabilidade ficará impune. Urge que o governo desencadeie o necessário para um novo paradigma de prevenção e auto-protecção, já.

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