Opinião de Ricardo Andrade
Pobres Eleições Autárquicas!
4 de julho de 2021
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Há largos meses, escrevi em linhas semelhantes a estas acerca das Eleições Autárquicas que se avizinham. Dissertei sobre a sua importância mas também relativamente a expectativas que tinha sobre as mesmas.
Não sobre expectativas de cariz pessoal ou sobre vontades que tinha e tenho que elas sirvam para agradar aos planos de vida de uns e de outros mas sobre aquilo que julgo ser mais importante (para não dizer o único aspeto realmente importante) em eleições deste cariz... as pessoas e o seu futuro.
Como tudo o que aqui escrevo, foram linhas sinceras e honestas sem medir as palavras nem as consequências que as mesmas possam ter. Porque é assim que acredito que devemos estar nestas temáticas. Foram linhas soltas na ponta da caneta que refletiam o meu estado de espírito e o meu pensamento livre de quem, apesar de ter uma experiência profissional específica, gasta tempo a refletir sobre o mundo que o rodeia. Foram letras e letras de quem, apesar de ter uma história partidária e um percurso de serviço público, não se fecha nos dogmas construídos para o aprisionar. Não pretendiam fazer futurologia ou adivinhação ao estilo “Alcina Lameiras” ou “ Professor Karamba”. Não tinham, também, a intenção de encerrar em si quaisquer escolhas partidarizadas sem um pensamento eclético como o que deveria presidir a quaisquer análises de um ato tão essencial como o de escolher quem dirigirá os destinos da nossa autarquia e dos nossos dinheiros públicos. Infelizmente, quando olho para essas linhas (ou para os desejos nelas contidos) e quando vejo o que se passa à minha volta, constato que este ato eleitoral tem sido uma desilusão.
Apesar de ainda não estarmos formalmente em processo eleitoral autárquico, estamos de facto já (ou deveríamos estar) naquele caminho estreito que nos levará a essa escolha tão importante que é a de definirmos quais são os modos de gerir o bem público que esperamos e de escolher quem queremos para o fazer.
Mas para essa escolha precisamos que haja quem nos transmita ao que vem. Necessitamos, como de “pão para a boca”, que existam interlocutores disponíveis a passar ideias e pensamentos claros.
Nos dias de hoje, essas ideias e esses pensamentos não valem só por si mesmos. É pena... não vivemos apenas no mundo da substância mas também no mundo da forma. Infelizmente até penso se não vivemos mais no segundo que no primeiro.
Precisamente por isso, estas Eleições Autárquicas têm sido uma desilusão. Porquê?
Porque continuamos a debater as mesmas questões, da mesma maneira, sempre com a esperança errónea de que assim poderemos obter algum resultado distinto.
Ainda mais grave e mais desapontante é assistir ao fenómeno do suposto “ar fresco” que nem sequer o é.
Porquê?
Porque o propalado “vento novo” que poderia advir de novos pensamentos e de novas organizações políticas, não se me afigura, aos dias de hoje, sequer como uma mera brisa.
Temos já na forja e bem adiantados os “players” que pretendem conquistar a nossa confiança. Temos já no terreno aqueles que demonstram a vontade de nos dirigir. Temos já a manifestação da vontade desses em definirem o nosso futuro. O que não temos, perdoem-me a frontalidade (e eventual injustiça para com raras excepções) é novas ideias e novas formas de se expressarem intenções puras de servir o próximo. E isso é ainda mais confrangedor e desanimador quando temos hoje mais meios e formas mais frescas para o fazer.
Confesso, novamente, que esperava mais. Admito que coloquei a fasquia elevada não para subir o patamar de exigência mas porque acreditava que este seria um dos momentos mais essenciais e mais propícios para que tal pudesse ocorrer.
Errei? Talvez!
Iludi-me? Espero que não!
Ainda vamos a tempo? Talvez!
De quê?
De esperarmos não estar aqui daqui a uns meses a dizer:
“Pobres de nós. Pobres destas Eleições Autárquicas em que podíamos ter tido tudo e mais uma vez não tivemos nada”!
Mas sabem que mais?
Ainda vamos a tempo!