Ninho de Cucos
Pulp - More
7 de julho de 2025
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Quase 25 anos depois, os Pulp regressam com um novo e aguardado disco de originais intitulado “More”.
Os Pulp embora formados em 1978, em Sheffield, atravessaram a década de 80 de forma bastante discreta, passando por um processo de quase refundação em 1991 que os catapultou, já em meados de 90, para o estrelato, ao lado de outras bandas Britpop como Blur, Oasis ou Suede e suportado em canções como “Do You Remember the First Time”, “Babies”, “Underwear”, “Common People”, “Disco 2000” e “Mis-Shapes” , um claro destaque para o álbum de 1995 “Different Class”, canções simples mas estilizadas por Jarvis Cocker, vocalista e líder da banda, com a sua escrita de humor refinado sobre amores, desamores e os dramas e frustrações da classe média.
O novo disco “More” abre com o tema “Spike Island”, primeiro single, momento em que os Pulp soam realmente a Pulp. É o primeiro de vários capítulos sobre a forma como a banda encara o envelhecimento com a abordagem irónica típica de Jarvis. Um retorno à altura, de celebração mas que não define tudo o que “More” realmente é.
Passado esse primeiro momento, o álbum mergulha numa atmosfera mais densa, e mais próxima de Serge Gainsbourg ou Scott Walker, influências precoces de Jarvis Cocker .
No fundo os Pulp retornam ao que haviam iniciado em “This is Hardcore” primando pelo requinte na produção e instrumentação.
Jarvis Cocker, aos 61 anos em excelente forma vocal, não poupa nos detalhes sórdidos e no erotismo, algo bem presente em “More”, escutem-se os temas “Tina”, “My Sex” e “Partial Eclipse”.
Já em “Grown Ups” há uma inconfundível batida à la Pulp, um violino marcante, o storyteller em crescendo, a vontade de não crescer, no entanto é assumido o amadurecimento após os 60 anos: “I am not aging/ I’m just ripening/Life’s too short to drink bad wine/And that’s frightening”;
Na verdade foi um longo interregno. Ao seguir ao último trabalha “We Love Life” de 2001, os Pulp pararam. Ou melhor, foram fazer outras coisas:
- Russell Senior (guitarra e violino), que saíra ainda antes de ser lançado o álbum de 1998, apostou num negócio como antiquário e já não voltou;
- Jarvis Cocker foi viver para Paris com a mulher de então e o filho, tornou-se apresentador de rádio na BBC 6, formou o projeto Jarv Is, escreveu música para o cinema de Wes Anderson e publicou um livro, “Good Pop, Bad Pop”;
- Nick Banks (bateria) passou a ceramista numa empresa familiar (e não perdeu o sentido da música, ao tocar regularmente num pub com a banda Everly Pregnant Brothers);
-Candida Doyle (teclas) dedicou-se à advocacia;
-Mark Webber (guitarra e teclas) realizou o filme “I’m with Pulp, Are You?”.
Estes quatro últimos regressam agora pela porta grande.
“Foi o melhor que conseguimos fazer”, disse Jarvis Cocker, dedicando o disco a Steve Mackey, ex-baixista da banda, que, aos 56 anos, foi vítima de AVC em 2023.
“More” vale bem a pena. É um disco que não se rende à nostalgia mas que também não é um total rompimento com o passado, lançando dicas de como se pode envelhecer, ou tentar envelhecer com estilo.
Um abraço e obrigado a todos os leitores que nos seguiram durante tantos anos.
Foi um prazer!