Ninho de Cucos
Mercury Rev em Lisboa - “Deserter’s songs”, 20 anos depois!
6 de outubro de 2018
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A cidade de Lisboa foi contemplada com um dos concertos comemorativos dos 20 anos de edição da obra prima dos Mercury Rev, “Deserter’s songs”.
Uma digressão relativamente extensa que desde abril e até ao final do ano, passa por mais de 40 cidades europeias e americanas, em salas de pequena e média dimensão, vocacionadas para aquilo a que a banda se propõe.
Os Mercury Rev presentearam-nos com um concerto intenso, intimista, obviamente centrado nos temas de “Deserter’s songs”, onde o vocalista Jonathan Donahue assumiu papel de cicerone e anfitrião dos caminhos e histórias à volta de um dos álbuns mais incríveis da história da música popular, editado em 1998, referência para tanta da boa música que 20 anos depois se continua a fazer mundo fora.
Jonathan, de apurado sentido de humor mas uma humildade sincera de quem consegue distanciar-se e analisar em causa própria, conta-nos alguns dos episódios mais rocambolescos de momentos anteriores à edição das canções da deserção.
Fala-nos dos momentos de total obscuridão e depressão que assolaram a banda após o anterior álbum “See you on the other side”, absoluto fracasso comercial que atormentou e abalou a confiança de Jonathan e Grasshoper, o guitarrista, na sua música.
Contou-nos dos efeitos positivos provocados por um telefonema dos Chemical Brothers que os ajudou a sair da penumbra e da forma como foram apanhados de surpresa pelo sucesso repentino e estonteante nos media de referência, com o disco que agora justamente se comemora.
Apresentado como um espetáculo frágil, intímo e calmo, no fundo a forma como originalmente as canções de “Deserter’s songs” foram apresentadas antes dos eloquentes arranjos que a produção brilhante de Dave Fridmann lhes conferiu em 1998, na verdade, esta apresentação bem mais despojada, sem bateria, baixo, violinos e violoncelos, não perdeu em intensidade, beleza, emoção e sobretudo ligação ao público (que encheu o Lux) nesta quente noite de final de setembro, à beira Tejo.
Alinhamento de 11 canções, 11 momentos mágicos, canções intemporais, incluindo “Here” que refere “I was dressed for success But success it never comes…”, versão de tema dos Pavement, muito elogiados pelos Rev e aclamados também pelos presentes.
Foram 75 minutos com 4 músicos ( 5 no tema “Opus 40”) em palco, conhecedores do seu papel na perfeição, com direito à habitual manipulação de serrote por Jonathan e a explosão final em “The dark is rising” largamente ovacionada.
Foram 75 minutos mais emocionantes e recompensadores que muitos festivais inteiros de 3 e 4 dias.