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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
Músico e Autor

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Cass McCombs Amor esquálido

3 de setembro de 2016
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Cass McCombs nasceu em 1977 na Califórnia, perto de São Francisco. Cresceu a ver concertos dos Grateful Dead, tantos quantos podia e muitos deles em dias consecutivos. Durante os anos 90 integrou uma série de bandas da zona, mas apenas em 2001 enve¬redou pela carreira individual, num acto de narcisismo assu¬mido pelo próprio. Desde 2002 Cass McCombs não parou de criar e editar material. Álbuns de originais vão 8, contando com o agora editado “Mangy love”, que é, provavelmente, um dos pontos altos da carreira de McCombs até à data.

Sente-se desde logo no desfilar da música e na atmosfera cria¬da, que o autor se move con¬fortável na sua matriz sonora diversificada e que vai do rock ao country e do alternativo ao punk no seu estilo enigmático, cronista do submundo, igual¬mente praticante de skate e que lê cartas de tarot.

A uma pergunta recente da Revista “Uncut”, sobre se algum dos erros cometidos deu origem a um disco, McCombs respon¬deu “são quase todos sobre erros e coisas erradas”.

Nos últimos 15 anos, Cass McCombs passou o tempo a viajar pelo mundo, ficando em casas de amigos ou permane¬cendo no seu carro, mas mos-trando-se sempre relutante com o que rodeia a música, nomea¬damente a imprensa. McCombs não é um tipo simpático ou conhecido como sendo simpá¬tico. Tão pouco se prestaria a dar entrevistas no passado para falar dos seus novos trabalhos, o que parece mudar agora com “Mangy love”, talvez por ter dei¬xado de lado receios e cepti¬cismo quanto aos frutos deste frete, que muitas vezes encara com humor e mentirinhas ino¬fensivas.

Apesar do narcisismo a que se auto proclama, não deixa de revelar uma enorme cons¬ciência social. Contando histó¬rias nas suas canções sobre vagabundos, drogados e outros discriminados, com o argu¬mento de que todos merecem uma canção que fale deles (diz McCombs conhecer alguns “junkies” que são as pessoas mais doces e confiáveis com quem se cruzou).

Mais que álbuns diferentes, Cass McCombs mantém a preo¬cupação de que cada tema novo seja diferente dos anteriores. Por outro lado, não perde o sentido de autocrítica desde¬nhando da sua forma de tocar guitarra e confessando que, muitas vezes, “rouba” frases ou linhas de músicas antigas. Só não sabemos é se fala sério e a verdade é que escutamos “Mangy love” na íntegra sem qualquer sentimento de usur¬pação. Identificamos as refe¬rências a Elliot Smith, Dylan, Neil Young, Lennon e Cohen, já perceptíveis no álbum estreia de 2003 “A”, em “PREfection” e “Catacombs”, para referir alguns dos mais marcantes trabalhos do autor, mas em caso algum de uma falta de identidade e personalidade vincadas na candura da voz e beleza dos arranjos, com produção de Rob Schnapf e o baixista Dan Horne. Não há uma canção desinte¬ressante nas 12 que compõem “Mangy love”.

Cass McCombs passou pelo Primavera Sound no Porto este ano e regressa no dia 3 de Novembro, desta feita a Lisboa, na sala São Jorge, numa tournée que de meados de Setembro ao princípio de Dezembro leva o artista para 35 datas na América, Europa e Austrália, com certeza para apresentar “Mangy Love”, embora alinhamentos previsí¬veis não sejam algo de confiar com Cass McCombs e os seus companheiros, dados ao impro¬viso e às “jam sessions”.

Já de confiança é este “Mangy Love” para quem gosta de músi¬ca decente.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico

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