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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
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Ninho de Cucos

Beach House - Once Twice Melody

6 de março de 2022
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O contributo psicadélico do produtor Sonic Boom (MGMT, Panda Bear), no anterior álbum dos Beach House, “7” de 2018, foi talvez a pedra de toque essencial para que os Beach House atingissem com “Once Twice Melody”, acabado de lançar, um carater tão distinto e apelativo que encanta pelo intenso processo criativo em quantidade e qualidade da dupla de Baltimore do estado americano de Maryland, formada por Victoria Legrand e Alex Scally.

São cerca de 80 minutos de requintadas melodias capazes de sintetizar um repertório seletivo mas expressivo de tudo o que a banda têm produzido ao longo de duas décadas de carreira.

A produção assinada pelos próprios mas que inclui os créditos dos “monstros” de estúdio Dave Fridmann, Alan Moulder, Tom Herbert e Trevor Spencer, abre passagem para um universo de novas possibilidades.

”Once Twice Melody”tema título de abertura, é desenvolvido a partir de um soberbo arranjos de cordas e frases de sintetizadores que potenciam o som produzido pela dupla.

Este é um disco cheio no sentido literal da palavra, cheio de camadas instrumentais, melodias e vozes sobrepostas que garantem maior profundidade ao todo, criando de forma inteligente oportunidades para o experimentalismo eletrónico como por exemplo em “Masquerade” ou “Over and Over”.

Ainda assim e até por ser um disco longo (é aliás de salientar a ousadia e confiança de lançar um disco duplo nos tempos que correm), continua a existir espaço para os temas próximos do universo dos primeiros trabalhos dos Beach House e que tantos seguidores granjearam como é o caso de “Superstar”ou das de abordagem mais atmosférica, “Sunset” e “Finale”.

“Once Twice Melody” é tão vasto de ideias que permite roçar até a música mais pop, pelo esforço investido em captar a atenção do ouvinte. Temas como “New Romance”, “Only You Know” e “Hurts To Love” comprovam-no de forma inequívoca.

“The Bells”, por seu turno evoca subtilmente “Hallelujah”, de Leonard Cohen, assim como “ESP”, nos remete para os Air.

Há cheirinhos aqui e ali dos Cocteau Twins e dos Slowdive, sem que tal resulte no entanto numa colagem total e exclusiva ao Dream Pop que outrora pairava como sombra e redoma nos Beach House.

O desasombro de um longo disco acarreta os seus custos e exageros que nos parecem de certa forma calculados mas “Once Twice Melody” será sempre uma obra de beleza inegável.

O regresso dos Beach House a Portugal está agendado para o Festival Paredes de Coura em meados de Agosto.

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