Opinião de Joana Roubaud
Ticket to ride
7 de março de 2021
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Iniciei o Becoming da Michelle Obama com expectativa e curiosidade em relação ao que a ex-primeira dama teria para contar após 8 anos na Casa Branca.
Na verdade, não lhe conhecia nada mais a não ser o facto de ser esposa do ex-presidente Barack Obama e mãe de Malia e Sasha. Ainda assim, Michelle já me suscitava alguma empatia em parte inexplicável, em parte pelo fenómeno político disruptivo. Foi com esta leitura que fiquei a saber que a sua vida de advogada certinha foi abalroada por um estagiário de nome esquisito. O estagiário veio a revelar-se uma força indomável, com uma capacidade de trabalho inestimável e um enorme sentido de intervenção comunitária. Anos mais tarde casaram. E foi na corrida às presidenciais que Michelle reconheceu que teria, provavelmente para sempre, de partilhar o seu marido com o resto do país.
Num ápice a família Obama recebeu um bilhete para a Casa Branca: a sua nova residência, com mais de 130 divisões, que de “casa” tinha pouco. Malia e Sasha cresceram com uma noção diferente de liberdade. O tipo de liberdade em que uma saída para comer um gelado envolve um agendamento e um algoritmo de segurança.
Segurança, por sua vez, era a palavra de ordem. De repente os nomes reais são traduzidos por nomes de código e a comitiva presidencial é composta por vários carros blindados, à prova de ataques químicos e biológicos, salvaguardados com uma reserva do tipo de sangue do presidente.
Ser FLOTUS, não é um cargo. Ser FLOTUS é deixar a vida em suspenso em prol de algo maior. É responder a todos os papéis exigidos sob a mira apertada dos holofotes e dos microfones e desempenhá-los nada mais, nada menos, do que na (aparente) perfeição.