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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

Loures, Netflix e a vida real

7 de abril de 2025
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Vi a série Adolescência, da Netflix, e confesso: esperava mais um retrato exagerado de miúdos mimados a dramatizar a vida. Mas não. Vi algo cru, desconfortável, e, acima de tudo, verdadeiro. Demasiado verdadeiro. Vi o reflexo da juventude que vive ao nosso lado, que estuda nas escolas de Loures, que apanha o mesmo autocarro que nós.
A série mostra-nos jovens desorientados, mergulhados num mundo de aparências, redes sociais e influencers que ditam quem se deve ser e como se deve parecer. Mostra-nos o abandono emocional, a ausência de diálogo, o desespero de querer ser visto — mesmo que seja por estranhos no Instagram.
E é aqui que entra a nossa realidade. Há poucas semanas, Loures foi abalada pela notícia da violação de uma rapariga de 16 anos. Um crime hediondo, cometido por outros jovens. A pergunta impõe-se: como é que chegámos aqui? Como é que não vimos os sinais? Que sinais são esses?
Pais e educadores perguntam-se, com razão, como podem proteger os seus filhos. Mas antes disso, talvez devamos perguntar: como podemos conhecê-los verdadeiramente? Sabemos o que eles veem no TikTok? Sabemos quem são os seus ídolos? Sabemos como se sentem quando não recebem “likes” suficientes? E, acima de tudo, sabem eles que podem falar connosco — sobre tudo?
A juventude de hoje vive entre ecrãs e expectativas irreais. Dentro e fora das escolas, o telemóvel é um apêndice do corpo. Influencers e streamers tornaram-se guias espirituais de uma geração que, muitas vezes, não encontra referências em casa. E nós, adultos, estamos a conseguir acompanhar?
“Adolescência” não é só entretenimento. É um espelho. E Loures, como qualquer outra cidade, deve olhar-se nesse espelho com coragem. Porque por trás de cada caso que chega às notícias, há muitos mais que passam despercebidos — e muitos podem ser evitados se estivermos atentos, presentes e dispostos a ouvir sem julgar.
A série acaba. Mas a realidade continua. E talvez seja altura de fazermos menos scroll e mais conversa. Porque, no fim, todos queremos o mesmo: que os nossos filhos cresçam em segurança, livres — e sobretudo, escutados.

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