Editorial
Até Já, Jornal
7 de julho de 2025
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Não me lembro do título do primeiro texto que escrevi para este jornal. Mas lembro-me do nervoso miudinho, do e-mail com o anexo, da sensação de “e se for uma vergonha pública?” e da alegria parva quando vi o meu nome impresso. Cristina Fialho, preto no branco. E pronto, estava feita a asneira: apaixonei-me por isto.
O Notícias da Portela (que já andava na rua desde 1998) foi a primeira porta que se abriu para mim quando ainda estava na faculdade, em 2004, a tentar perceber se queria mesmo ser jornalista ou se só gostava da ideia romântica de tomar cafés e fazer perguntas difíceis. Spoiler alert: era um bocadinho das duas.
Durante anos, fui dizendo sim a tudo. Reportagens, entrevistas, crónicas, opiniões mais ou menos polidas, artigos sérios e outros mais dados ao disparate. Escrevi perguntas sem resposta e publiquei direitos à resposta. Fui lida, contestada, elogiada, repreendida — e aprendi em cada um desses momentos. A escrever e a ouvir. Sobretudo o peso da responsabilidade de escrever em papel. Impresso. Real. Sem edições post scriptum.
Este jornal foi uma espécie de casa. Daquelas onde se entra sem bater à porta e se senta à mesa com liberdade de expressão e direito ao segundo prato e café. A redação sempre me acolheu com mais paciência do que orçamento, e por isso este adeus sabe um bocadinho a capítulo final — mas daqueles com reticências no fim.
A Ficções Média — essa mãe galinha com filhos como o Notícias de Loures e o já saudoso Notícias da Portela — apostou em mim quando eu ainda estava em versão beta. E eu, com uma arrogância tenra e sonhos em saldo, deixei-me apostar. Que sorte a minha.
Deixo um agradecimento especial ao Nuno Luz, incansável até às tantas da manhã, o herói da última hora antes de ir para impressão, que sempre alinhou em todos os projetos, mesmo os mais malucos. E também ao Filipe, uma espécie de mentor com uma “memória RAM emocional” que armazena todas as nossas conversas, ideias, fases e versões de mim. Obrigada por te lembrares de mim, até quando eu me esqueço. Um grande abraço — dos sentidos.
E claro, um obrigada aos nossos colunistas, que generosamente partilharam pedaços de si, edição após edição, às vezes com deadlines esticados até à data de fecho… valeu sempre a pena. E aos leitores — os que leem, os que mandam e-mails, os que me chamam na rua para comentar um texto. Sem vocês, escrever seria só falar sozinha. E eu já faço isso o suficiente.
Agora, nesta última edição, custa-me dizer adeus. Mas se há coisa que aprendi a fazer aqui foi a dar nomes às coisas, mesmo quando custam. Por isso, não digo adeus — digo obrigada. Por me deixarem crescer, errar, escrever com voz própria. Por acreditarem em mim quando ainda estava a aprender a acreditar em mim mesma. E por terem acolhido todas as versões da pessoa que sou.
Levo comigo cada texto, cada conversa de redação, cada deadline furado e cada título trocado à última hora. E deixo aqui uma parte de mim. Uma espécie de Cristina 1.0, cheia de vírgulas fora do sítio, mas com muito coração.
Obrigada por tudo. E até já.
Com carinho (e sempre com vírgulas a mais),
Cristina Fialho