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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

A antipatia não vende

4 de julho de 2021
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Estive uns tempos a trabalhar como freelancer numa agência em Marvila onde se ia almoçar ao “café da malcriada”. Perguntei: “se é malcriada porque vamos lá?”... “Ora, não há outro aqui na zona!”.

Não era porque a comida era tão boa que se aturava a descortesia da proprietária, era mesmo porque a marmita tinha ficado em casa.

Em nenhuma outra situação vi a sujeição à falta de modos pelo consumismo.

Vi muitos estabelecimentos abrir e fechar por falta de tato para lidar com a clientela e vi outros singrar com mais ou menos qualidade de produto pelo excelente serviço que apresentavam.

Não vamos comprar pão à padaria da "Estúpida da Dona Isabel”, nem vamos ao restaurante do empregado que nos serve sempre de trombas.

E cada vez vamos menos aos restaurantes (falo por mim).

Num mercado cada vez mais online perde-se a relação humana, clicamos numa tecla e vem parar uma caixa à porta e é isto que é a experiência de compra.

Já não se sente o cheiro do papel do jornal a chegar à banca, já não nos borrifam o pulso à porta da perfumaria, e (Deus nos livre) que nem nos atrevamos a cheirar uma especiaria na mercearia!

O anonimato do online trata-me de uma forma mais estandardizada e falsamente amigável com a angústia de se sobressair na concorrência tão fortificada e de me apanhar o dinheiro antes que carregue na cruzinha. E eu aceito.

Sinto que por vezes o meu indicador a carregar no botão “pagar” é muito mais valorizado do que o meu movimento de sair para ir ao vivo ver uma loja, de máscara, ficar na fila, para estar a contribuir para que aquele funcionário ainda tenha esse emprego.

Estamos todos exaustos. Eu também.

Deixo a mensagem a quem está em frente ao público por opção - reforço o “opção” pois noto mais esta tendência nos negócios mais recentes, em que alguém resolve “abrir uma loja” porque vê nesse negócio espécie uma “independência”.

Vejam quem está no mercado há muitos anos. É a simpatia que agarra os clientes, é a vontade de voltar, é o saber o nome próprio, é não andar atrás do cliente na loja, é sorrir (mesmo com máscara) e sobretudo, despedir-se com a certeza de um “até à próxima”.

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