Das Notícias e do Direito
Natal é em Dezembro
3 de dezembro de 2023
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Já dizia Ary dos Santos:
Natal é em Dezembro mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro é quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher
Escrevo estas linhas a escassos dias da Restauração da Independência. Em meu redor, decorações de Natal, muitas. Pessoas com sacos e embrulhos, também.
E o que queremos desde Natal e deste Dezembro?
A paz, o pão habitação saúde, educação, citando outro poeta.
Quem diria que depois da pandemia, chegaríamos a 2023 com duas guerras a acontecer. Com loucos e chanfrados a serem eleitos como Chefes de Estado, com as calotas polares a derreter. Com comportamentos absolutamente inenarráveis e de impossível compreensão.
Não subo a Calçada, como a Luisa, mas desço com frequência a Almirante Reis e é chocante o número de tendas nas arcadas. Vivem pessoas em tendas, aqui ao pé de nós. E parece tudo normal!
A saúde é um rodízio.
Na educação desmerecem-se os professores à indigência e ignoram-se as necessidades dos alunos.
Da Justiça nem se fala.
Se por um lado se promove a agenda do trabalho digno e as alterações ao Código do Trabalho, persiste-se em ignorar normas e princípios quando o Empregador é o Estado.
Temos crianças sinalizadas nas CPCJ porque os Pais perderam as casas, e estão 4/5/6 pessoas enfiadas num quarto, ou numa tenda.
Temos Todos, Todos, Todos de parar e olhar ao nosso redor.
Não é possível viver ilhado, fechado em casa, a fazer teletrabalho, usando pijama como uma segunda pele.
Há que olhar à nossa volta, estar atento e decidir fazer algo por nós, pelos outros e pelo país.
Afinal somos todos seres conscientes, cientes e supostamente inteligentes.
Não tenho uma varinha de condão, não creio em milagres, mas acredito nas pessoas, na sua capacidade de fazer acontecer, de mudar, de se recriarem e fazerem também algo pelos outros.
Ouço «Do they know is Christmas» e estou certa que muitos não farão a mais pálida ideia de que será Natal.
E não porque são muçulmanos, judeus ou ortodoxos, mas sim porque não têm a possibilidade de sentar a família ao redor de uma mesa farta.
Isto sim é uma preocupação.
Nascida em 1901 a minha Avó materna colocava sempre um lugar a mais na mesa de Natal, pois nunca se sabia quem poderia aparecer. Mais do que fazê-lo foi o ensinamento de preocupação pelo outro e a sabedoria da partilha que nos deixou.
Natal é quando o Homem quiser e bom, bom é poder sê-lo diariamente, nas pequenas coisas que identificamos com o Natal, agradar o outro, surpreender com um presente, um cartão, uma amabilidade, uma simpatia. A beleza da mesa, a partilha de tarefas, as horas passadas à volta de tachos e pequenas tradições.
Acenda uma vela, permita-se sonhar e pergunte-se o que pode fazer para melhorar a sua vida, o seu comportamento e assim melhorar a vida dos outros.
Feliz Natal, meu irmão, amigo, és meu irmão.