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Notícias | Atualidade

“Vale a pena viver para ver uma bicicleta chegar e desaparecer na névoa.”

Burning Man

6 de outubro de 2018
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Nuno Paulino, o diretor artístico da Artelier?, a companhia de teatro de rua da Portela da Azóia viajou, entre 26 de agosto e 3 de setembro passado, até ao deserto do Nevada, nos Estados Unidos, com o objetivo de fazer o reconhecimento do local e das condições onde decorre o festival Burning Man, do qual farão parte em 2019, conforme foi anunciado na passada edição de março.

A cidade de Black Rock

Uma vez por ano, entre o final de agosto e o início de setembro nasce, no deserto de Black Rock, uma metrópole dedicada à comunidade, à arte e à individualidade artística ou pessoal de cada um. Esta cidade, que se ergue ao longo de oito dias há 32 anos, a partir de campos temáticos e criações de arte móveis, não é um festival de música mas um apelo à mudança espiritual positiva onde uma espécie de santuário, que representa aqueles que já não estão connosco, é queimado no final. A construção de uma comunidade autossustentável, onde não entra dinheiro nem se exerce o poder, é orientada por um conjunto de regras básicas que todos respeitam, embora quem não seja convidado tenha que pagar, pelo menos, cerca de 500 euros pelo bilhete. 

Oportunidade de participação e contemplação

Nuno Paulino foi uma das cerca de 70 mil pessoas que se deslocaram à metrópole no Nevada em agosto passado. A convite do diretor do festival e, dadas as especificidades decorrentes da concretização do projeto da Companhia no deserto e a tantos quilómetros de distância, foi reconhecer o terreno como observador. No entanto, como artista e como pessoa que conta 49 anos de existência, aquilo que mais o surpreendeu não foi o que viu mas o que sentiu. Fascinou-o a capacidade de um conjunto de pessoas, entre artistas, criativos e os que não vestem esse papel, conseguirem produzir mais de 600 criações artísticas, iluminadas e em movimento, como se todos fizessem parte de algo maior. Descreveu a cidade como “um local onde ficamos perdidos, sem pontos de referência e onde o horizonte se move como um bailado”. Nas suas palavras, “o deserto funciona como um palco, com as condições necessárias às obras de arte que são, acima de tudo, de permissão da contemplação sem interferências”.

"The dusty bike"

Numa viagem também ela interior e de reflexão entre as tempestades do deserto, houve tempo para escrever o que viu e sentiu. O relatório poético intitulado "the dusty bike", inspirado na imagem de ciclistas que desapareciam na névoa, foi recitado ao público americano que o aplaudiu, gritando “Portugal is in the house”. “A bicicleta empoeirada”, ponto de partida do que vai ser posto em prática deu, também, origem aos retratos desenhados por José Baetas, ilustrador português de obras de ficção científica e parceiro da Companhia.

Depois da bicicleta saltou para outras ideias. O trajeto que envolveu a passagem por São Francisco, fez nascer a possibilidade de organizar a próxima ida ao Nevada de barco, partindo da ponte lisboeta com destino à sua gémea nos Estados Unidos e daí rumo ao deserto, de preferência, com um grupo de pessoas que pretendam partilhar esta experiência com eles.

Contribuição para a cultura do Concelho

Sendo a Artelier? a primeira companhia artística portuguesa com uma estrutura organizada a ser convidada a participar no Burning Man onde, este ano, foi aplaudida pelos seus pares, idêntico reconhecimento se espera do Concelho onde está sediada. Afinal, não se é convidado a participar na maior galeria de arte a céu aberto se não se tiver feito um bom trabalho e só uma política de maior apoio às artes permitirá aumentar a sua contribuição para a cultura nas redondezas.

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