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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

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Vereadores ou gestores de negócios?

2 de julho de 2016
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Esta coluna de opinião é, preferentemente, sobre o concelho de Loures e o que lhe diga respeito. Nesta edição, abre-se uma excepção, mas para se referir a um importantíssimo legado de Loures e da sua imensa capacidade de realização nos anos 70, 80 e 90 do século passado. Recordo que o actual Município de Odivelas integrava, ainda, o Município de Loures.

É do Centro Cultural da Malaposta que se trata, claro, e da privatização do seu funcionamento, aprovado recentemente pelos orgãos municipais de Odivelas com a confluência de votos de PS e PSD.

A Malaposta, o equipamento e, a AMASCULTURA, a estrutura intermunicipal que lhe deu vida, actividade e projecção nacional, foram uma das mais revigorantes e ambiciosas propostas socioculturais e artísticas do País no início dos anos 80, a par do CDIAG, Centro Dramático Intermunicipal Almeida Garrett, único centro dramático criado em Portugal, também no âmbito da AMASCULTURA.

As autarquias de Loures, Amadora, Vila Franca de Xira e Sobral de Monte Agraço conferiram, com aqueles instrumentos, ao teatro, às artes plásticas, ao cinema, à dança, à literatura, à poesia e à música, uma importância, divulgação, aceitação pública e participação, que não se imaginava e que nenhuma outra iniciativa, das décadas posteriores, igualou.

A visão, ambição e investimento das autarquias e munícipes daqueles territórios, que já haviam sido menorizadas com a secessão do Município de Loures, criando-se o de Odivelas, onde sucessivas gestões desvalorizaram a Malaposta, o seu potencial, a sua história e objectivos, são agora vilipendiadas por uma inconcebível “concessão”, a privados, da gestão do ímpar espaço cultural.

Não que se veja algum impedimento de privados poderem gerir espaços e projectos culturais. A questão é que inevitavelmente se transformam os munícipes em meros consumidores e a cultura em “produtos culturais”, como se de uma vulgar mercearia se tratasse.

É revoltante, ao mesmo tempo que preocupante, assustador mesmo, que “privatização” e “concessão”, sejam o restrito léxico que consegue articular e operacionalizar, uma certa camada de novos políticos, pretensamente modernaça, que se revela, afinal, inculta e incompetente, sem imaginação, sem horizontes, sem sentido de serviço público, apesar de ter sido eleita para servir o interesse colectivo.

Tudo indica que, como não sabem o que fazer, nem como fazer, optam por alienar os recursos municipais e públicos, para que outros façam, por eles, aquilo de que não são capazes.

Em boa verdade, na tradição municipalista portuguesa e em face da estrutura jurídica do poder local em Portugal, estes senhores não são Vereadores de coisa nenhuma. São, quando muito, (uma espécie de) gestores de negócios, de lobistas, entre a esfera pública e privada.

Creio que pode afirmar-se que estamos perante verdadeiros eunucos políticos. Tomam conta das odaliscas, mas nem sequer lhes tocam.

A Malaposta e o seu percurso inigualável, mereciam muito mais que isto. Será de esperar que um dia, mais cedo que tarde, alguém tenha a determinação e coragem de relegar estas decisões para o caixote do lixo da história, onde encontrarão, certamente, os seus perpretadores.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico

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