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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Novo Impulso

1 de outubro de 2016
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O associativismo em geral, e o associativismo popular em particular, encontrou durante o período da ditadura fascista em Portugal, inúmeras dificuldades, condicionalismos e repressão aberta, e não é menos verdade que após 25 de Abril de 1974 passou a dispôr de condições de liberdade e democracia, para se alargar, evoluir e consolidar.

Nos últimos anos, factores contraditórios, parecem manter em “estado de crise” o associativismo ou pelo menos mantêm-se uma narrativa sobre uma alegada crise a que já se pode chamar permanente. Por um lado, verificam-se condições objectivas para se desenvolver. Há novas expressões associativas, uma maior emancipação juvenil e de género, apoios consolidados das autarquias locais ao movimento associativo, entre outros aspectos.

Por outro, sublinham-se factores subjectivos de impedimento, bloqueio e retrocesso ao desenvolvimento da actividade associativa, como o “afastamento da juven- tude”, o “desinteresse” de crescentes faixas da população, o “egoísmo” sedimentado na sociedade. Houve, nos últimos anos, inequivocamente uma evolução organizativa, sobretudo, comandada pelos ajustamentos que conduziram à actual Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, mas o mesmo não se passou no plano institucional, continuando a faltar o reconhecimento de “parceiro social” que se exige que a classe política reconheça ao imenso movimento e espantoso berço de voluntariado que é o movimento associativo popular.

De facto, com milhares e milhares de participantes permanentes, uma vastíssima e intensa actividade e uma dinâmica económica não dispicienda, vai sendo tempo de o associativismo assumir centralidade na sociedade portuguesa e conquistar o espaço sócio-político que lhe tem sido negado e pelo qual não tem reclamado o suficiente. Os tempos claramente requerem um Novo Impulso das comunidades locais, dos seus mecanismos de solidariedade e cooperação, onde avulta o associativismo em todas as suas variantes e onde o associativismo popular detém a capacidade de instigar a iniciativa, promover a organização e aprofundar a relação das colectividades com os indivíduos e motivar estes a envolverem-se naquelas. Não é tarefa simples, evidentemente.

Os avanços não têm como ser rápidos. A eficiência das acções terá o seu tempo de teste, correcção, ajustamento e resultado. Certo é, que quanto mais tarde se der início a tal propósito, mais dura e difícil poderá ser a missão. Haverá, certamente, quem reclame por análise, reflexão e estudos que caracterizem a situação, elucidem sobre o posicionamento dos indivíduos, a sua visão e aspirações, para então serem adoptadas soluções infalíveis. Outros, defenderão, que é preciso organizar, organizar, organizar e, só então, se estará em condições de continuar a organizar.

Todos sabemos que estas duas anteriores proposições têm tanto de falácia, como de álibi para não se fazer nada verdadeiramente útil e prospectivo. O que é mesmo necessário é dar conteúdo racional a um Novo Impulso Associativo e começar já. Porque não começar no Município de Loures ?

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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