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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Lisboa a espirrar para Loures?

2 de junho de 2018
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Durante décadas, tudo o que a Capital não queria dentro dos seus presunçosos limites era empurrado para as periferias. A cintura industrial de efeitos ambientais tremendos, os bairros operários e as chamadas “urbanizações da classe média”, os armazéns monstruosos, os parques de contentores horrendos, as barracas e a pobreza, as unidades de deposição e tratamento de resíduos, os bairros clandestinos e muito mais que ocupou desordenadamente o território, lhe infligiu danos só recuperáveis em muitas gerações e manteve distante uma população “rústica”, de baixos recursos económicos, educativos, formativos e culturais.

Com o 25 de Abril e o advento do Poder Local Democrático, muito evoluíram os territórios e as suas pessoas à volta de Lisboa e, nos últimos anos é já possível encontrar elementos comparativos de qualidade de vida entre Lisboa e os concelhos limítrofes. Nalguns domínios, há Municípios que superam a grande cidade em vários domínios, ao mesmo tempo que a Capital ganhou tanto de atractividade turística internacional, como se descaracterizou velozmente. Lisboa que antes – e também depois de 74 – espirrava, desdenhosa e deliberadamente – por culpa de governos classistas e até de autarcas mal preparados ou incompetentes -, para a periferia, parece que hoje está a espirrar o que se calhar não queria e Loures talvez possa aproveitar aquilo com, provavelmente, não contava.

Quem anda na rua e percorre o Concelho de Loures pode aperceber-se que são cada vez mais os estrangeiros que aos poucos, pé ante pé, discretamente, vão “invadindo” as nossas freguesias. Quase sem se dar por isso, já se alugam quartos e casas através das plataformas electrónicas internacionais e como quem não quer a coisa, percebe-se que se estão a gerar novas dinâmicas, ainda frágeis, ainda voláteis, ainda titubeantes, mas portadoras também de oportunidades.

A questão agora é perceber o fenómeno, reflectir sobre as possibilidades e os efeitos, antecipar estratégias e medidas e aproveitar para qualificar as nossas terras, impulsionar a hotelaria, requalificar o património, recuperar o artesanato e a gastronomia saloia, desenvolver a cultura, dinamizar a formação profissional turística, exigir transportes públicos à altura (com o metropolitano como peça central), construir um Centro Cultural e receber sustentadamente o fio de turistas, que foge da cada vez mais confusa Lisboa da moda, e torná-lo a prazo num fluxo turístico de relevância económica e social, através das diversas possibilidades locais. Turismo Rural, Turismo de Ambiente, Turismo Religioso, Turismo Patrimonial, Turismo Gastronómico, Turismo Vinícola, Turismo Cultural entre outros, como hipóteses de trabalho de inegável potencial.

O que sempre se tem feito em matéria de Turismo no Concelho de Loures, foi descrente, desarticulado e tímido. É tempo de visão estratégica e acção determinada, atrevo-me a dizer.

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