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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Combate à ignorância, a mãe de todas as batalhas

5 de setembro de 2021
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Talvez a minha visão da vida e do mundo não apresente uma perspectiva muito consensual. Na verdade, deve ser pouco partilhada, dados os incómodos que por vezes sentimos na reação de outros aos nossos pontos de vista.

Em qualquer caso, o meu caminho será sempre o da busca da liberdade de pensamento e tanto quanto a biologia nos permite, o rumo ao pensamento. Evidentemente, nem sempre se terá razão ou se estará certo, mas procura-se sempre formar opinião. Opinião informada, não uma alheia.

Desgosta-me profundamente que cada vez menos seja possível ter trocas de opiniões, debates e participações colectivas lucidas, informadas e criativas.

Nos serviços públicos se escreve mal, com erros ortográficos, de concordância, de exposição, nas Assembleias de Freguesia e nas Assembleias Municipais fala-se pessimamente e é-se incapaz de realizar debates com nível, sentido e conclusões, que no mundo do trabalho se atabalhoam ideias, os “conhecimentos” não passam de sistemas de crenças, as ideias são recrutadas nas TVs e nas redes sociais.

A cada dia há menos opinião própria na sociedade portuguesa. Faz-se ou diz-se, porque o chefe determinou, porque o partido “decidiu”, porque a figura pública sentenciou, porque o comentarista de serviço comentou, porque o telejornal (as dezenas diárias deles que repetem coisas até à exaustão que até parecem ser verdades incontestáveis e a maior parte das vezes ou são opiniões ou inverdades descaradas…) noticiou.

Exaspera-me que a Europa e Portugal, com os seus planos de recuperação e resiliência e as chamadas bazucas financeiras ignorem olimpicamente a ignorância como o inimigo mais perverso e mais perigoso dos povos e dos países. Na verdade, do Planeta…

A fome, as alterações climáticas, a rapina capitalista dos recursos naturais, a escassez de água potável e a sua gestão, as guerras quentes e frias promovidas pelos EUA e a NATO constantemente e os fundamentalismos de todas as origens são, pensamos nós, problemas centrais e urgentes do actual modelo civilizacional, que se suporta numa profunda e larga ignorância à escala global, de que os negacionismos vacinais, são apenas ponta do iceberg e os eleitorados de extrema-direita o seu perigoso degelo.

Recusar travar a mãe de todas as batalhas que é preciso, prementemente, vencer em nome da humanidade, por razões de perfídia ideológica, falta de coragem política ou ausência de rumo político, é herança que indignará a actual classe política nacional e internacional, se é que no futuro a cobardia, a incapacidade e a indignidade terão significado e reconhecimento.

Se os homens nada fizerem objectiva e atempadamente, esperemos que a biologia, apesar da “educação” oca e apressada de Bolonha e a perda de valores sociais e colectivos em curso, possa proporcionar o “milagre” do pensamento livre às novas gerações e estas travem a ignorância, a pior de todas as pandemias que nos assolam.

Conto que a erradicação da ignorância seja o assunto central das próximas eleições em Portugal.

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