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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

Com papas e bolos?

5 de setembro de 2020
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Já lá vão cerca de 6 meses desde que esta pandemia se tornou uma dura realidade com que os portugueses se viram confrontados. Já lá vai metade de um ano desde que muito do que eram aspetos aparentemente menores no dia a dia de todos nós passaram a ser bastante valorizados face às restrições que nos eram impostas para combater um inimigo que, ainda hoje, não conhecemos na sua totalidade. Durante este tempo fomos vendo e ouvindo vários casos em que um dos aspetos positivos de tudo o que passávamos era a forma como a Natureza estava a conseguir recuperar de muitos dos abusos cometidos pelos humanos ao longo de séculos. Exemplos como o dos pássaros que voltaram a ouvir-se na China ou os veados que reapareceram junto a cerejeiras em flor no Japão pareciam dar força à ideia de que se estavam a aprender lições com todo o drama trazido pela COVID-19. A forma como, um pouco por todo o mundo, a solidariedade entre pessoas e o convívio outrora desaparecido reaparecia durante períodos de confinamento parecia indiciar igualmente que nos estávamos a tornar melhores enquanto espécie.

Confesso que também fiquei agradavelmente surpreendido com a forma como, transversalmente, ia vendo novas e inovadoras respostas na tentativa de fazer face a uma luta que tinha que, obviamente, ser comum a todos.

Em suma, tudo apontava para que tivéssemos aprendido a lição de que o todo era sempre mais importante do que as partes e ainda mais do que a mera soma destas. Tudo fazia prever que crescêssemos enquanto sociedade trilhando um caminho de maior união e entreajuda e de menos egoísmo e de busca por protagonismos estéreis que pouco acrescentam à comunidade.

Infelizmente e pouco a pouco, o eu tem voltado a ganhar terreno ao nós. Infelizmente parecemos ter aprendido menos do que devíamos. Infelizmente a crispação e os extremismos foram voltando (se é que alguma vez, verdadeiramente, desapareceram). E, infelizmente, parece que a intolerância e o umbiguismo voltaram para ficar.

A não ser que não nos conformamos e que decidamos, enquanto sociedade, não dar tréguas a quem pretende sempre aproveitar-se de divisões e que demonstremos, com exemplos diários e constantes, que não pretendemos trilhar o caminho do facilitismo e do seguidismo e que só podemos vencer enquanto sociedade se permanecermos juntos mesmo sabendo que não somos todos iguais.

A não ser que permaneçamos conscientes de que está nas nossas mãos o aprender a lição que muitos diziam termos aprendido mas que muitos demonstram hoje não terem prestado atenção nenhuma.

A não ser que voltemos, enquanto sociedade, a demonstrar muitos dos atributos que se tornaram evidentes e até virais durante estes últimos meses de combate a um inimigo pandémico comum.

Está nas nossas mãos demonstrar se aprendemos a lição ou se apenas andámos a fingir que éramos algo que não queríamos verdadeiramente ser.

Cabe a todos e cada um de nós demonstrar se conseguimos seguir o caminho rumo a uma melhor sociedade ou se queremos cair nas patranhas de quem (e não são poucos) , entre uma e outra divisão, entre um caso ou outro, entre um tweet e um post, entre uns arranjos gráficos e uns vídeos apelativos, entre uns discursos mais ou menos elaborados e uns textos oficiais, entre a aparência de serviço público e de espírito coletivo ou até mesmo entre uma imagem momentânea de “doçura ou travessura”, vai conseguindo fazer vingar a máxima popular de que “ Com papas e bolos se enganam os tolos ”.

Esperemos para ver e saibamos ou lutar ou aceitar o caminho que a maioria escolher.

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