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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
Músico e Autor

Ninho de Cucos

Música que valeu a pena em 2014

3 de janeiro de 2015
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Temendo não acrescentar nada de relevante e trazendo aqui apenas mais uma lista em jeito de “best of” do que melhor aconteceu em 2014, musicalmente falando e até porque essas análises sempre subjetivas abundam em tudo o que é jornal, revista ou publicação digital nesta altura, centremo-nos nesta edição, a primeira de 2015, em cinco trabalhos do ano findo que merecem realmente a atenção de quem segue as correntes da música popular, casos estes onde se conjuga a qualidade apresentada em estúdio com a vocação de palco.

The War on Drugs

A banda de Adam Granduciel, de Filadélfia, lançou em 2014 o terceiro álbum de originais “Lost in the dream”, um traba- lho que levou 15 meses a concluir, com gravações em 5 diferentes estúdio de 5 estados norte ameri- canos diferentes. Apesar desta dispersão os 10 temas incluídos apresen- tam uma ligação e uma coerência brilhante, amea- çada nos trabalhos ante- riores e agora plenamente alcançada. Não esconde as influências de T om Petty, Bob Dylan e Bruce Springsteen sem que tal acarrete perdas na perso- nalidade própria da banda. Granduciel é um fanático dos pedais de efeitos que pudemos confirmar no Nos Alive em Julho passado sem problemas em atrasar o início do concerto até a parafernália de cabos e pedaleira xxl estar como deve ser para dar azo depois ao som denso da banda onde a sua guitarra surge bastas vezes a soar a sintetizadores vários. A escrita é sensível, emoti- va e humana. “Under the pressure”, “Red eyes”. “An ocean in between the waves” e “Burning” são eventualmente destaques num album nivelado por cima onde não é fácil fazê -los.

Real Estate

Banda de New Jersey, claramente influenciada por Velvet Underground, Galaxie 500 ou os Go Betweens, lançou em Março de 2014 o seu 3o álbum “Atlas”. Música despretensiosa, bonita e despida de arranjos espe- ciais. Melodias orelhudas de vozes doces e jogos de guitarras, baixo e bate- ria, simples mas confor- táveis. O álbum abre com “Had to hear” seguido por “Past Lives” e “Talking Backwards” um trio de canções de excelentes canções que não revelam todos os seus segredos numa primeira audição mas talvez também por isso valha bem a pena. Passam em Portugal este ano!

Jungle

Banda sedeada em Londres normalmente des- crita como “neo-funk” ou “midtempo 1970’s style funk” é um dos mistérios mais calculados recente- mente na cena musical. A banda apareceu ao publi- co sob a forma de vídeos onde apenas apareciam dançarinos mas não os membos da banda, 2 pro- dutores conhecidos sim- plesmente como “J” e “T”. Caixas de ritmos vintage, linhas de baixo com muito Groove, abuso de vocais em falseto e muitos sam- plers, psicadelismo e sire- nes de polícia num formato bem pop e dançável cons- tituíram ingredientes para o sucesso confirmado no Nos Alive este verão. Com certeza muitos escu- taram já “The Heat” mas temas como “Busy ear- nin’”, “Platoon” e “Time” afasta os Jungle e o seu álbum homónimo de 2014 da categoria de one hit wonder.

Future Islands

Banda americana que ao 4o álbum denominado “Singles”, o primeiro para a mítica editora 4AD, salta para a 1a divisão das ban- das indie pop rock qual- quer coisa. Este é um disco de canções que podem ser hit singles a qualquer momento. Samuel o voca- lista brilha em canções fáceis de apanhar. Há um cheirinho a Roxy Music em “Like the moon” “Seasons” é um belo tema e o baixista Cashion estudou definiti- vamente muito bem o tra- balho de Peter Hook nos New Order. A banda visi- ta Portugal em 2015. Nós estaremos lá. Por agora fica “Singles”, muito bom.

Temples

Banda inglesa que se estreou e bem em 2014 com “Sun structures”. Embora o disco nos reme- ta para uma viagem nos- tálgica ao final dos anos 60 com o som de órgãos barrocos, mellotrons e har- monias vocais flutuantes a banda parece absoluta- mente confortável, domi- nando todos os truques da era e transportando-os naturalmente para a atua- lidade num pop rock psi- cadélico e épico, recheado de canções com potencial de hit não fora estarmos na época em que existe sempre uma Miley Cyrus pronta a lamber uma chave de fendas ou a exibir a sua nudez num lar de idosos. Excelente 2015 com muito boa música e menos fait divers, pelo menos estes que são mauzinhos.

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