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Opinião
Florbela Estevão – Arqueóloga e Museóloga
Florbela Estevão
Arqueóloga e Museóloga

Paisagens e Patrimónios

A Estação da Biodiversidade de Fontelas

8 de abril de 2019
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Nesta crónica de abril, quando a primavera promete dias joviais e vibrantes, desafio os nossos leitores a conhecerem a chamada Estação da Biodiversidade de Fontelas, situada na freguesia de Lousa, cuja visita permite, ao longo de um percurso pedestre de aproximadamente um quilómetro, conhecer um pouco mais da flora e da fauna do nosso território.

Uma Estação de Biodiversidade é a designação convencional de uma determinada zona, devidamente sinalizada, na qual se definiu e materializou um percurso programado para os visitantes poderem, ao longo do mesmo, tomar contacto com as formas de vida (flora e fauna) locais.

Aquela Estação de Fontelas foi inaugurada em 2017, sendo a 30ª de uma já ampla rede nacional, e a primeira a ser instalada na Área Metropolitana de Lisboa. O projeto foi financiado pela Câmara Municipal de Loures, tendo sido desenvolvido pela equipa técnica municipal da Divisão de Zonas Verdes e Floresta, com o apoio no terreno da Equipa de Sapadores Florestais.

Existe por todo o país um conjunto de Estações da Biodiversidade, que constituem mais de uma trintena de locais, oferecendo uma rede de percursos pedestres públicos, cada um deles com uma extensão máxima de três quilómetros, representativos dos habitats característicos dos locais de implantação. Assim, cada Estação representa, para os visitantes interessados neste tipo de turismo de natureza, a possibilidade de conhecer um pouco mais da riqueza biológica da área a que respeita, através de um caminho pedonal pontuado por painéis informativos que funcionam como autênticos “guias de campo”, orientando a visita.

Nesta rede nacional de promoção, sensibilização e salvaguarda da biodiversidade é dado particular destaque aos insetos e plantas, que são básicos para a conservação dos ecossistemas terrestres. Outra vertente muito aliciante deste projeto é o de promover a participação dos cidadãos na inventariação da nossa fauna e flora, uma vez que o visitante pode recolher imagens e depois enviá-las para a rede nacional, contribuindo deste modo não só para o enriquecimento da dita inventariação, como para a monitorização das espécies já reconhecidas. Para o feito, foi criada pela mencionada associação uma metodologia que designaram “RIPAR”, a qual orienta os interessados na obtenção de informação: registo das observações através da fotografia, identificação das espécies, e partilha pública desses dados através do website www.biodiversity4all.org.

A rede das Estações de Biodiversidade (EBIO) teve início num projeto do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, associação sem fins lucrativos com estatuto de Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) e de Utilidade Pública. Todavia, desde 2010 que as entidades responsáveis pelas Estações são, além do Tagis, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, e também os municípios onde as Estações estão localizadas.

Voltando à Estação de Biodiversidade de Fontelas, o percurso a realizar pelos interessados começa precisamente nessa localidade, com a indicação do trajeto que os levará até ao seu término, junto à povoação de Carcavelos. Ao longo do itinerário eles irão encontrando nove painéis interpretativos, um com o mapa geral do caminho a percorrer e os restantes com explicações sobre as espécies que poderão encontrar.

Não vou aqui descrever as espécies mais emblemáticas deste habitat, mas não posso deixar de salientar, no que se refere aos meses de abril e maio, momento ideal para quem aprecia estas manifestações locais da natureza, a beleza das orquídeas selvagens que “invadem” os prados, com a sua multiplicidade de formas e cores. Mas também, ao longo do percurso, existem jacintos selvagens, além de borboletas e libélulas, e, mesmo, um centenário carvalho-cerquinho, soberba árvore classificada como de interesse público, e que, de modo imponente, parece “guardar” as ruínas de um antigo lavadouro contíguo…

Se até agora o meu enfoque foi para o que está mais próximo do olhar do visitante, direi ainda que caminhar por este local permitirá também visualizar outros pontos de interesse mais distantes, mas que sobressaem na paisagem. Por exemplo, o afloramento calcário do Cabeço do Mouro, onde há milhares de anos se obtinha uma matéria-prima propícia para a fabricação de utensílios cortantes, o sílex. Ou o Penedo do Gato, afloramento grandioso onde foram descobertos vestígios do Paleolítico. Ou ainda o chamado Crasto de Ponte de Lousa, situado em esporão entre a ribeira do Tufo e a ribeira de Lousa, ocupado por comunidades da Pré-história recente. E finalmente, já quase acabado o percurso, a Anta de Carcavelos, situada numa encosta próxima, e que é um bem conhecido monumento megalítico que nos certifica, uma vez mais, da longínqua ocupação humana deste território.

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